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ESTRELA

“Aceitar o diagnóstico do autismo é metade do tratamento”

Neste sábado, 2, é celebrado o Dia Mundial do Autismo. Profissionais destacam o papel da família no tratamento para proporcionar melhores condições de vida e inclusão social

Há 22 anos a fonoaudióloga Juliana Balestro atua com pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil e no Exterior. No dia a dia trabalha com a avaliação, supervisão e intervenção no desenvolvimento da comunicação social de autistas. Ela é uma das profissionais a integrar a equipe multidisciplinar que contribui para o diagnóstico e tratamento de crianças, adolescentes e adultos.

De modo geral, o diagnóstico ocorre por volta dos dois anos de idade quando os sinais ficam mais evidentes. Ainda assim, alguns casos podem ser observados logo nos primeiros meses de vida. O psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, neuropsicólogo e neuropediatra são profissionais que, juntos, podem investigar e emitir parecer se uma pessoa possui TEA. O laudo final é feito pelo médico e segue os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).

O tratamento se baseia em melhorar habilidades e diminuir dependências. É importante buscar logo pelo diagnóstico para que possa ocorrer a intervenção precoce. Ao utilizar o procedimento adequado, é possível obter melhorias nas regulações dos sintomas e estimular as aprendizagens.

Na clínica da Juliana, o processo de avaliação e terapia da comunicação, linguagem e fala são feitos através do acompanhamento e participação familiar. As salas são divididas por um “espelho espião” para que os pais e responsáveis possam assistir e ouvir as sessões.

“Tudo que eu faço com a criança eles observam por causa do espelho. Eles sabem como desenvolvo as atividades e podem aplicar em casa algumas coisas. São eles os parceiros mais duradouros dos filhos, vão ficar em todas as fases do desenvolvimento”, ressalta a fonoaudióloga.

O papel da psicologia

A psicóloga Tatiane Berté faz em torno de 60 atendimentos por mês a crianças com TEA. O serviço ocorre no consultório, na clínica multidisciplinar e, em alguns casos, no ambiente escolar e até mesmo em casa.
Conforme Tatiane, como todo autista é único, o tratamento leva em conta as necessidades individuais de cada um. A psicologia tem como intuito estimular os comportamentos sociais e de comunicação funcional, incentivar processos de aprendizagem, trabalhar regulação e emoções, além de acompanhar os familiares.

“Pesquisas indicam maior eficácia nas Terapia Cognitivo Comportamental ou Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para atuação com TEA. Os materiais e ferramentas utilizadas são brinquedos. Assim, a criança aprende a melhorar a interação social, aumenta a motivação, desenvolve habilidades simples, melhora o contato visual e a comunicação funcional, adquire maior autonomia com brincadeiras que reforçam as atividades de vida diária”, explica.

Participação da família

Segundo a psicóloga, a família tem um papel muito importante nos processos de aprendizagem e participam do tratamento ao acompanhar as sessões e dar continuidade do tratamento em casa. O autismo é um Transtorno do Neurodesenvolvimento, portanto não tem cura. “Ainda estamos longe de viver em uma sociedade inclusiva e livre de preconceitos. Por isso, pode haver sofrimento pelos pais de crianças que se encontram na situação. O tratamento também demanda muito dos familiares”, afirma.

Aceitar o diagnóstico

A professora Denise Imela Muller Bordignon Mateus, 39, é mãe da Ana Júlia de 5 anos. Ela conta que começou a suspeitar de algo errado, pois chamava e a filha não olhava. Com 2 anos a pequena recebeu o diagnóstico de TEA e iniciou o tratamento com estimulação precoce. “Hoje ela tem terapia todas as manhãs, com psicóloga, musicoterapeuta, fono, terapeuta ocupacional e psicopedagoga. Ela também faz natação e acompanhamento nutricional”, pontua.

Para Denise, as terapias são fundamentais e fazem parte da rotina da filha. “Ana adora, pede para ir. Já evoluiu muito, fala, interage, forma frases, cumpre os combinados e conta pequenos fatos”, comenta.
De acordo com a professora, aceitar o diagnóstico é metade do tratamento. Quanto antes iniciar as intervenções, mais sucesso se tem. “Os pais, cuidadores, professores e monitores são modelos e devem buscar saber mais sobre o autismo. Existe muita literatura disponível e em Estrela temos a ONG Cristal Azul. Nossa região tem excelentes profissionais que atuam no tratamento do TEA”, destaca.

Tratamento

A também professora Nedilaine da Silva Malvessi, 42, é mãe do Lucas de 11 anos. Quando o filho tinha 1 ano e meio percebeu que ele parou de falar algumas palavras, não atendia mais quando chamavam pelo nome e não interagia mais com ninguém. O diagnóstico veio anos depois, pois os profissionais tiveram dificuldade em identificar o TEA.

“Ele começou os atendimentos com 2 anos. Hoje, faz terapia com a psicóloga e psicopedagoga, e vai voltar para a fonoaudióloga e ecoterapia. O Lucas estuda no período da manhã, em escola regular, a tarde faz as terapias em dias alternados e aula de violão. Ele adora música e sonha em ser cantor”, conta.

Para Nedilaine, a criança evoluiu com o tratamento, consegue se comunicar, é inteligente, curioso e criativo. “Essa autonomia foi porque buscamos ajuda de profissionais competentes quando ele ainda era muito pequeno, período esse muito importante, por causa da neuroplasticidade cerebral nos três primeiros anos de vida”, frisa.

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