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ECONOMIA

Alta demanda exige formação para o setor calçadista

Com perspectiva de crescimento na produção em nível nacional, região acompanha momento positivo e prepara estratégias para qualificar mão de obra. Bom Retiro do Sul organiza curso profissionalizante inspirada no exemplo de Teutônia, que forma trabalhadore

Estruturas produtivas do setor calçadista em Bom Retiro do Sul empregam cerca de 38% da população economicamente ativa do município (Foto: Jhon Wilian Tedeschi)

Um dos principais geradores de empregos da região, o setor de calçados mantém recuperação no período pós-pandemia. A partir disto, a necessidade de expansão somada a falta de profissionais aptos a trabalhar nas indústrias desafiam empresários, entidades e poder público a buscar alternativas.

Em Bom Retiro do Sul, administração municipal e sindicato da categoria unem forças para disponibilizar mão de obra pronta a atuar nas linhas de produção. A proposta de ofertar um curso de costura industrial surgiu conforme foi identificada uma margem para desenvolvimento das empresas. A qualificação é aberta para todos os públicos e não tem custos para os inscritos.

O presidente da entidade sindical, Pedro Görgen, avalia que o mercado do setor vai “de vento em popa”. E para ampliar o potencial dos empreendimentos da cidade, os gestores tratam o capital humano como fator determinante. “Temos uma grande demanda. Acredito que se tivermos mais mão de obra qualificada conseguiremos aumentar a nossa capacidade de produção”, afirma.

A parceria com o município ganha o auxílio de empresas que vão ceder maquinário para as aulas práticas. “Queremos ver o nosso município crescer e as empresas crescerem. O nosso propósito, nosso objetivo, de fomentar esse mercado que já está bem aquecido, e a expectativa é que cada vez cresça mais”, pontua a secretária de Habitação e Assistência Social, Danielle Nascimento.

Cerca de 38% dos empregos formais em Bom Retiro são no setor calçadista, enquanto 11% das empresas ativas estão ligadas à atividade. “Sabendo que grande parte da economia da nossa cidade gira em torno do calçado, entendemos que é preciso investir nessa área”, acrescenta Danielle.

Desafio regional

A partir da iniciativa, a vizinha Fazenda Vilanova demonstra interesse em contar com a qualificação, de acordo com Görgen. Os empregados nas indústrias de calçados do município estão vinculados ao mesmo sindicato de Bom Retiro do Sul e representam quase 20% da força de trabalho com carteira de trabalho assinada.

A produção em ambas as cidades têm como principal foco abastecer a filial da Calçados Beira-Rio, em Teutônia. Görgen estima que 90% da produção de Bom Retiro e 100% das atividades em Fazenda Vilanova são destinadas para a fabricante. “A Atlas, em Bom Retiro, absorve o restante da mão de obra que atua no município”, comenta.

O sindicato calçadista em Teutônia (Siticalte) mantém oficinas para formação de costureiras há 25 anos. O presidente Roberto Müller aponta que 2 mil profissionais passaram pelo curso no período. Mesmo assim, existe um desafio para renovação no setor pela demanda das empresas. “Os jovens precisam se interessar pela atividade para que ela se mantenha. Por mais que existam tecnologias, a necessidade de mão de obra qualificada permanece.”

Vagas abertas

A Adril Calçados, no bairro Laranjeiras, emprega cerca de 180 pessoas e tem margem para mais profissionais. É o que relata o proprietário da empresa, Adriano Daniel da Silva. “Se chegarem 20 pessoas dispostas a trabalhar, conseguiria atender a todos.” A produção na última semana foi de 14 mil pares de calçados prontos para comercialização, de acordo com o empresário. “Parte da estrutura operacional na fábrica está pronta para receber reforços e ampliar a produtividade”, garante.

Cenário nacional

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) projeta para 2023 um crescimento na produção entre 1% e 1,7%, na comparação com o ano passado. O percentual representa uma desaceleração frente a 2021 e 2022, quando o aumento foi de 9,8% e 3,6%, respectivamente. Ao todo, devem ser fabricados cerca de 860 milhões de pares de calçados.

O relatório do setor divulgado nessa terça-feira, 25, revela que 3,4% do valor produzido no ano passado está vinculado aos serviços de atelier, que concentra a maior parte das atividades nos dois municípios – a costura tem a maior representatividade, com 63,3%. O indicador é o maior registrado desde 2018.

O consumo de calçados neste ano deve aumentar mais de 3%, puxado pelo mercado interno, que deve gerar a comercialização de aproximadamente 755 milhões de pares. A coordenadora de inteligência de mercado da Abicalçados, Priscila Linck, destaca que a conjuntura internacional deve privilegiar as vendas dentro do país. “O real valorizado torna o produto brasileiro mais caro para o comprador internacional.”

Fabricação de calçados em Bom Retiro e Fazenda Vilanova tem como ponto forte os atelieres
de serviços complementares à fábricas maiores (Foto: Jhon Willian Tedeschi)

Curso profissionalizante

Ofertado pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) em conjunto com o Sindicato Calçadista de Bom Retiro do Sul, o curso de costura industrial tem inscrições abertas até o dia 5 de maio. As aulas devem ocorrer nos turnos da manhã, tarde e noite, conforme a demanda de interessados. A formação é gratuita, terá carga horária de 48 horas e as aulas serão na sede do sindicato.

Números da mão de obra

Bom Retiro do Sul
  • Fabricação de calçados de couro: 949 pessoas – 27,89% dos empregados
  • Fabricação de partes para calçados, de qualquer material: 233 pessoas – 6,85% dos empregados
  • Fabricação de calçados de material sintético: 104 pessoas – 3,06% dos empregados
Fazenda Vilanova
  • Fabricação de partes para calçados, de qualquer material: 78 pessoas – 11,19% dos empregados
  • Fabricação de calçados de couro: 56 pessoas – 8,03% dos empregados
Teutônia
  • Fabricação de calçados de material sintético: 1.703 pessoas – 15,45% dos empregados
  • Fabricação de calçados de couro: 525 pessoas – 4,76% dos empregados
  • Fabricação de partes para calçados, de qualquer material: 178 pessoas – 1,61% dos empregados
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