Um crime nunca visto na história moderna do Rio Grande do Sul. Assim o procurador-geral de Justiça do RS, Alexandre Saltz, define a tentativa de homicídio contra o promotor Jair João Franz. A ocorrência mobiliza forças policiais e do judiciário a fim de elucidar as motivações e descobrir a autoria do atentado. O poder público garante foco total para resolver o caso.
Líderes das polícias destacam a necessidade de uma resposta rápida à sociedade, também para mais segurança aos servidores e à própria população. Por outro lado, colegas e amigos de Franz apontam para uma preocupação com a mudança no perfil e do tipo de criminalidade.
Após o fato, a reação imediata dos comandos policiais foi demonstrar força, com presença nas ruas e união entre as instituições. Representantes do alto escalão do Ministério Público (MP), Secretaria de Segurança Pública (SSP), Polícia Civil (PC) e Brigada Militar (BM) estiveram no município e se manifestaram de forma conjunta na manhã seguinte ao crime.
A entrevista coletiva no Fórum de Teutônia foi aberta pelo procurador-geral de Justiça. Saltz ressaltou a gravidade do caso. “Quando membros do poder judiciário ou dos órgãos de segurança pública sofrem algum tipo de atentado, isso é um atentado contra o Estado, contra a democracia, e isso é inaceitável”, afirmou.
O poder público promete agilidade para esclarecer o crime e severidade na punição. “Não vamos admitir que esse tipo de coisa aconteça. Bandido vai respeitar a autoridade no Rio Grande do Sul”, pontuou o secretário de Segurança, Sandro Caron.
Nenhuma hipótese de motivação para o crime foi descartada. As hipóteses seguem em diversas linhas de investigação. “Nos preocupamos muito com os fatos que envolvam a atuação profissional do promotor, mas é óbvio que todas as situações serão objeto de análise”, frisou o chefe da PC, delegado Fernando Sodré.
Acrescentou ainda que houveram avanços e que as primeiras ações já estabelecem o direcionamento das estratégias e possíveis suspeitos.
“Ainda não podemos divulgar ou ter certezas absolutas”, ponderou. Nos bastidores, circulou a informação que uma das causas seria uma vingança pelo resultado de um julgamento conduzido por Franz no dia anterior ao crime.
O reforço policial permanecerá em Teutônia por tempo indeterminado. Há equipes do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, e do Comando de Polícia de Choque (CPChq) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Brigada Militar, que utilizou um helicóptero para auxiliar nas buscas ao criminoso.
Repercussão no MP
Colegas de Franz no Ministério Público comentam o ocorrido e ressaltam a preocupação causada. Promotor em Lajeado, Carlos Augusto Fiorioli afirma um sentimento de tristeza, mas diz não estar surpreso com a situação. “O que vemos no Estado é de cada vez mais ousadia da criminalidade. Isso se reproduz no Vale também.”
Ele destaca a necessidade de uma ação incisiva e também em termos de medidas para garantir mais proteção aos agentes de segurança e à população como um todo. “Na nossa atuação, temos como pressupostos esses enfrentamentos e riscos. Agora, e com a sociedade em geral. As pessoas estão ainda mais exposta. Essa é uma discussão que precisamos ter e definir que tipo de Estado queremos. O que devemos fazer para reverter esse quadro de insegurança”, reforça.
Neidemar Fachinetto foi promotor em Lajeado por 24 anos e não lembra de situação semelhante. Segundo ele, há uma mudança no perfil da criminalidade. “E isso é muito grave e preocupante. Há grupos organizados, que atuam em formato de pirâmide. A ordem muitas vezes não parte do local, ela vem de cima para ser executada.” Fachinetto hoje está no setor de Gestão da Procuradoria-Geral de Justiça.
A firme atuação de Franz no combate à criminalidade é citada por Fachinetto. “Acredito que o episódio esteja relacionado a isso”, diz. Por fim, reafirma a necessidade de uma grande investigação. “É fundamental descobrir autor, os motivos, se há mandantes e quem são. É um atentado que agride a todos nós. Os promotores, os sistemas de segurança, as policias, o judiciário e o próprio Estado de Direito”, conclui.
Episódios semelhantes
Em junho de 2012, o hoje promotor de Justiça de Venâncio Aires, Pedro Porto, reagiu a um assalto à mão armada. Ninguém ficou ferido e um dos assaltantes foi preso em flagrante e condenado. “No meu caso, não havia qualquer relação com meu trabalho, era só um assalto a mão armada e eu dei uns tiros nos assaltantes e saí atrás deles, passando informações à Brigada Militar”, conta.
O promotor de Justiça Marcelo Dario Muñoz Küfner, que atuava em Santa Rosa, foi morto aos 33 anos, em 2004. Ele foi atingido por tiros de revólver calibre 38, efetuados à queima-roupa. O autor dos disparos foi o soldado do Batalhão da Brigada Militar da cidade, Heitor José Ávila, de 27 anos, que foi preso em flagrante. O crime aconteceu após uma ocorrência de trânsito.
Em agosto de 2011, a juíza Patrícia Acioli, do Rio de Janeiro, foi assassinada com 21 tiros na porta de casa, em Niterói, aos 47 anos. Ela era titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo e atuava em processos em que os réus eram policiais militares e estavam envolvidos em mortes de civis.
Entenda o caso
O promotor de Justiça de Teutônia, Jair João Franz, sofreu um atentado na noite da quinta-feira, 17. O fato ocorreu quando ele chegava em casa, por volta de 21h10min, no bairro Centro Administrativo, e foi surpreendido por um homem que saiu de um matagal que atirou pelo menos 15 vezes contra o veículo.
Atingido por um disparo, que atravessou o braço e se alojou no abdômen, Franz foi levado ao Hospital Estrela, onde passou por avaliação, mas não foi necessário procedimento cirúrgico. Na manhã da sexta-feira, 18, o promotor recebeu alta.
