Jornal Nova Geração

VALE DO TAQUARI

Cervejarias da região se inspiram em sucesso nacional e buscam protagonismo

O aumento no consumo nacional anima empreendedores locais, que trabalham para manter a tradição do Vale no segmento cervejeiro. Aposta está no desenvolvimento econômico e turístico para atrair clientes e novos negócios

A divulgação do Anuário da Cerveja, produzido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), revela um crescimento de 12% no setor no ano passado. Mesmo com uma desaceleração nos últimos anos, desde 2000 o número de cervejarias no Brasil cresceu mais de 4000%.
Conforme o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), o consumo da bebida no Brasil aumentou 8% em 2022. No aspecto produtivo, o país é o terceiro que mais fabrica no mundo e perde apenas para China e Estados Unidos. A balança comercial – relação entre exportações e importações – supera os US$ 100 milhões.

Uma das cidades da microrregião se destaca em uma das estatísticas do Anuário da Cerveja. Colinas figura entre os municípios com menor densidade cervejeira do Brasil, como a 19ª colocada – a única empresa registrada compreende os cerca de 2,4 mil habitantes. Linha Nova, no Rio Grande do Sul, lidera o ranking, com duas cervejarias para os 1.724 habitantes.

O estado ocupa a 2ª colocação no ranking de cervejarias, com 310 empreendimentos, 25 a mais que em 2020. Na densidade cervejeira por estados, o RS também ocupa a vice-liderança, com um fabricante para cada 34.132 habitantes. De acordo com o levantamento, o Rio Grande do Sul empregava 2.322 pessoas, e na última publicação do Cadastro Geral de Empregados (Caged), eram 2.287 profissionais vinculados ao setor.

Contexto regional

O Vale do Taquari, em especial a microrregião de Estrela, tem tradição na produção da bebida. O Mapa de Empresas do governo federal aponta que a Princesa do Vale tem seis fábricas de cervejas e chopes registradas. Nos municípios vizinhos, Bom Retiro do Sul tem duas, enquanto Colinas e Teutônia possuem uma cada.

A história explica um pouco dessa vocação cervejeira. Foi em Estrela que surgiu uma das principais marcas gaúchas, a Polar, lançada em 1929. A fábrica foi construída alguns anos antes, em 1912, e se manteve ativa até 2006, às margens do Rio Taquari, como uma das principais geradoras de empregos da cidade.

O cenário atual é diferente. Das 10 empresas ativas na microrregião, nove delas são microempresas e uma é de pequeno porte. A maior parte dos empreendimentos produz em menor escala, sem a necessidade de grandes equipes de funcionários – os cinco municípios somam 52 trabalhadores no setor cervejeiro.

Espaço para todos

O segmento possui margem para crescimento no Vale do Taquari. É o que aponta o gerente comercial da Prost Bier, André Stahlhoefer. “Acredito fortemente que hoje existe espaço para um crescimento exponencial no setor cervejeiro, tanto aqui na região, quanto no estado e no Brasil. Isso pelo simples fato do público consumidor conhecer cada vez mais sobre cerveja.”

Ana Paula Decker, proprietária da Cervejaria Meridional, de Colinas, vai na mesma linha de raciocínio. “Temos lojas especializadas e pubs com grande variedade de estilos e marcas, e o turismo acaba fomentando tudo isso. As visitas à cervejaria acabam fazendo parte dos roteiros turísticos.” Para ela, esse movimento surge como uma oportunidade para apresentação da cervejaria e captação de novos negócios.

O gestor da Prost ainda destaca o fato da região ter se tornado um polo cervejeiro para o Rio Grande do Sul. “Temos várias cervejarias aqui na nossa região que cresceram, se desenvolveram e estão se consolidando no mercado com marcas fortes. O desenvolvimento da economia regional acompanha os cervejeiros.”

Aposta na qualidade

A transformação do segmento e a crescente no número de cervejarias aumenta e qualifica a concorrência. Ana Paula faz essa avaliação e acrescenta que os clientes são os mais favorecidos com isso. “Hoje o consumidor pode optar por vários tipos de cervejas, tudo a seu gosto.” Stahlhoefer pontua que o público busca uma bebida de qualidade, e quer entender mais sobre o que está consumindo, sobre os ingredientes e como é produzida a cerveja.

Vínculo local

A Salva, de Bom Retiro do Sul, é a primeira cervejaria do Brasil a ter um projeto de fomento à cultura do lúpulo local. “O Salva Hops nasceu junto com a Salva em 2016 e viabilizamos por ele parceria com os produtores rurais, oferecendo assistência técnica e garantindo a compra das safras, o que aproxima a cadeia produtiva e dá alternativas lucrativas à agricultura familiar da nossa região”, conta Marcus Outemane, coordenador de marketing da cervejaria.

Expansão nas vendas

A Meridional, de Colinas, concentra o comércio no mercado local, mas possui pontos de venda em Porto Alegre e fora do RS. “Enviamos encomendas para o Nordeste e inclusive ao exterior. E o fato de conseguirmos criar este vínculo nos orgulha muito, pois somos uma pequena cervejaria do interior do estado que está focada em produzir cerveja de qualidade”, afirma Ana Paula.

A estrelense Prost, por sua vez, quer alçar voos mais altos em 2023. “O foco comercial da empresa hoje é atingir algumas regiões que no RS ainda não alcançamos. As principais regiões que temos fora do estado são o Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso. De vez em quando aparecem alguns clientes de outros estados, mas nesses três que mais vendemos”, realça o gerente.

Barreiras tributárias

A falta de incentivo e a alta tributação para as microcervejarias são desafios que os empreendedores tentam destravar. “O incentivo tributário para as microcervejarias no RS encerra aos 3 milhões de litros/ano. Em outros estados, como Santa Catarina e Paraná, o incentivo é valido até 5 milhões de litros/ano, enquanto Minas Gerais tem até 100 milhões de litros/ano. Isso possibilita o crescimento do setor em seus estados e consequentemente a arrecadação”, pondera Outemane.

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