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ECONOMIA

Comércio de Poço das Antas mantém ritmo e indústria projeta retomada

Fechamento de supermercado e frigorífico da Languiru colocou uma série de desafios à comunidade. Entre eles, o encerramento de 700 vagas de emprego, impactos orçamentários e desabastecimento de itens nos mercados locais

Perspectiva da reabertura de frigorífico é aposta do município para que a empregabilidade volte a crescer (Foto: Divulgação)

O município de Poço das Antas passa por um dos momentos mais desafiadores dos 35 anos de história. O fechamento das duas maiores empresas da cidade em um intervalo de quatro meses representa um impacto econômico e social à comunidade. O frigorífico de suínos e o supermercado da Cooperativa Languiru representavam cerca de 700 postos de trabalho, que foram extintos com o fim das atividades.

Existe a perspectiva de uma retomada, a partir do anúncio da compra da planta produtiva pela multinacional JBS. A promessa é que os trabalhadores desligados da cooperativa regional sejam chamados para atuar novamente no local. As atividades devem reiniciar em março do ano que vem, com a contratação de 400 pessoas. “Quando reabrirmos a unidade, nós vamos buscar todos os colaboradores que antes estavam lá”, disse o CEO da Seara Alimentos, João Campos, no dia da confirmação do negócio.

A prefeita Vânia Brackmann destaca que o maior desafio foi manter a comunidade tranquila em relação à possibilidade da volta das atividades, seja com a Languiru ou outra empresa. “A população poderia ter se inflamado em algum momento”, cita. A gestora comenta ainda que o formato de desligamento dos funcionários, com rescisão e seguro-desemprego, manteve o poder de consumo da população.

Por outro lado, a falta de um supermercado, na avaliação da prefeita, deixa a cidade desabastecida. “Se alguém quiser comprar um bife descongelado, por exemplo, dificilmente vai encontrar em Poço”, conta. Outros itens, como frutas, verduras e legumes por vezes faltam nas prateleiras. Em relação a ter um supermercado com maior capacidade de oferta, Vânia é otimista. “Nos próximos dias devemos ter novidades sobre isso.”

No âmbito da criação de vagas de emprego, a abertura de um ateliê de calçados, que deve ocorrer no início de 2024, surge como mais uma possibilidade de movimentar a economia. “Pessoas que não se identificam com o trabalho no frigorífico, em especial mulheres, vão ter uma nova alternativa de emprego”, acrescenta a prefeita.

Comércio movimentado

A circulação de consumidores no comércio de Poço das Antas segue no mesmo padrão, e até superior ao período em que o frigorífico esteve em funcionamento. É o que relatam profissionais que atuam no município. “Parte do pessoal ainda recebe o seguro-desemprego e tem mais tempo para consumir”, conta uma trabalhadora, que não quis se identificar.

Quanto ao fechamento do supermercado, dois estabelecimentos absorvem a demanda, mas com restrições. “Fazemos o que dá”, diz Mario Paulo Hummes, proprietário de um comércio de menor porte. Ele acrescenta que não houve incremento na estrutura, apenas disponibilidade de mais itens. No período em que a reportagem esteve no local, na tarde da terça-feira, 12, o movimento era acima da média, de acordo com o empreendedor.

Sobre o aspecto financeiro na comunidade, Hummes se preocupa com o retorno da população às atividades, sobretudo de quem ainda recebe valores de rescisão da cooperativa e demais benefícios. “Uma hora esse dinheiro acaba, e as pessoas vão precisar comer”, pondera. Por outro lado, quem quer fazer compras em maior quantidade, precisa procurar por estabelecimentos em Teutônia ou Estrela.

Preferência local

Funcionária de uma loja de roupas no centro da cidade, Juliane Schneider reforça que o movimento se manteve semelhante, mesmo com o fechamento dos empreendimentos da cooperativa. Para ela, o primeiro momento foi de maior preocupação, mas as coisas se estabilizaram. “Na comparação com o ano passado, nós estamos com vendas ainda maiores”, conta.

Ela ainda analisa o cenário do empreendimento, que alcança também as localidades do interior, sobretudo por ser um dos poucos no segmento do vestuário no município. “Quase toda cidade compra aqui”, comenta. Outro fator que mantém os números positivos, no entendimento de Juliane, é a preferência dos consumidores em comprar nos demais estabelecimentos locais.

Comércio local relata que poder de consumo da população se manteve, mesmo com o fechamento das unidades da Languiru (Foto: Jhon Willian Tedeschi)

A vendedora lembra que a chegada do frigorífico à cidade em 2012 atraiu mais moradores e, por consequência, uma maior demanda por consumo. Entre elas, pessoas de fora da região e até de outro país. “Muitos haitianos vieram para cá trabalhar”, diz. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2010 e 2022, a população de Poço das Antas aumentou 7,6% (de 2.017 para 2.171 moradores).

Impacto orçamentário

No início do ano, o município apresentou um estudo que apontava a preocupação com o novo sistema implementado para o cálculo do Índice de Participação dos Municípios (IPM), que reflete no retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Até 2026, Poço das Antas vai arrecadar R$ 1,6 milhão a menos, uma redução de 26,2%.

A prefeita ainda não tem uma estimativa do impacto dos fechamentos em valores, mas acredita que isto deve repercutir nas finanças do município apenas em 2025. Para 2024, o orçamento foi aprovado em pouco mais de R$ 26 milhões. Para fins de comparação, Poço das Antas teve R$ 24,3 milhões em 2023, ou seja, no ano que vem são 7,2% a mais na projeção.

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