A construção da nova sede do 40º Batalhão de Polícia Militar, em Estrela, é questionada por moradores do Centro que utilizam o espaço para lazer e não concordam com a derrubada de árvores. A área, localizada na esquina das ruas Pinheiro Machado e Borges de Medeiros, foi doada pela Administração Municipal. Na semana passada, técnicos de uma empresa estiveram no terreno para fazer a sondagem.
O prédio terá 900 m² e abrigará a Brigada Militar, a Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram), a Força Tática e a Associação Estrelense Pró-Segurança Pública (Aespro). Conforme a engenheira de alimentos Alessandra Hansen, 41, que mora em frente ao local, a área começou a ser utilizada pela comunidade em 2020. Foram feitos o plantio de árvores e criação de uma horta comunitária. “Começamos a cuidar. Queremos manter este local, pois percebemos a riqueza que tem aqui”, pontua.
Alessandra ressalta que a comunidade é a favor da mudança de seda da BM, porém em outro local. “Muitos defendem e querem manter o espaço, mas poucos têm coragem de ‘dar a cara a tapa’. Precisamos ter senso de comunidade e lutar por este lugar”, afirma.
Apego afetivo
Segundo a professora aposentada Sandra Muller, 63, existe um apego afetivo e o desejo de valorizar e preservar a natureza. “As árvores podem não ser nativas, mas todas contribuem para o meio ambiente, geram beleza e conforto muito grande. Nossa cidade está ficando quente e abafada. As construções são um progresso, mas para essa finalidade o terreno não é um dos maiores e melhores para se construir”, salienta.
“Não tem diálogo”
A Associação de Moradores (Amor) do Centro não teria sido ouvida e nem avisada quanto à escolha da área que seria doada. De acordo com o engenheiro de software, Matheus Betto, a Escadaria também é um ponto para o lazer, mas fica inviável em época de enchente, pois a área é alagável. “Tem pessoas que vem aqui descansar, inclusive, se deitam para aproveitar a sombra”, aponta.
Para ele, não houve diálogo. “A gente foi lá e já estava tudo decidido. Eles não querem ouvir. Isso não é diálogo.” Uma nova reunião entre o prefeito, BM, Patram e Amor é solicitada pelos moradores.
Outros prédios
Conforme a professora aposentada, Maidy Lautert, 69, prédios que estão abandonados poderiam ser utilizados para as instalações da brigada, como o imóvel ao lado da área doada e até mesmo a antiga Cervejaria Polar. “Quando a construção é particular, tem burocracia e empecilhos que atrapalham, mas quando a prefeitura quer alguma coisa, ela pode e é rápida”, observa.
Em defesa da mudança
O presidente da Aespro, Rodrigo Tomasi, diz que durante a última enchente, em 2020, foram observados os prejuízos causados dentro da atual sede do 40º BPM. Situada em área alagável, diversas perdas de documentos e materiais de expediente foram registradas. Na época, a água atingiu 1m e 20cm na instituição.
Para ele, é importante investir em tecnologias, mas para isso é necessário um ambiente mais adequado, centralizado e que traz mais segurança. A inauguração está prevista para ocorrer até o fim deste ano. No entanto, só será possível por meio de doações. “Precisamos do apoio da comunidade para conseguir recursos. O Ministério Público, o Executivo e algumas pessoas físicas e jurídicas já auxiliaram, mas precisamos de mais doações. É preciso entender que a construção vai fazer a diferença, como auxiliar na redução da criminalidade”, ressalta.
Sobre as reclamações da comunidade, Tomasi afirma que todos os documentos estão dentro da legalidade. “Pretendemos ouvir todos para entender as necessidades, mas também queremos dizer o quão beneficiados eles serão. Precisamos olhar para a comunidade inteira.”
Qualidade no serviço prestado
Com sede em Estrela, o 40º BPM ainda atende os municípios de Bom Retiro do Sul, Colinas, Fazenda Vilanova, Imigrante, Paverama, Poço das Antas, Tabaí, Taquari, Teutônia e Westfália.
O 1º tenente da Brigada Militar, Radaméz Prediger, explica que a estrutura do local será feita em pavilhão de pré-moldado, onde no primeiro piso estará localizado a parte operacional, de videomonitoramento, policiamento e atendimento ao público. Já no segundo andar, será a parte de gestão, comando e alojamentos. Um estacionamento lateral está previsto para as viaturas. “Saúde, educação e segurança são ramos que se pensarmos individualmente não vamos chegar em lugar algum, pois em algum momento somos atingidos por eles”, frisa.
Outras opções
O coordenador de segurança da Secretaria de Administração e Segurança Pública, Abreu Fernandes, ressalta que o papel da prefeitura foi receber o pedido de apoio, identificar uma área que atendesse a brigada e fazer a doação. De acordo com ele, o assunto estava sendo tratado na comunidade. “Queríamos trazer a BM para a área mais central da cidade, perto do comércio e agências bancárias. Tem outros espaços na cidade para lazer como a praça Menna Barreto e o Parque da Lagoa. Não estamos tirando o espaço deles, sem dar outras opções”, afirma.
Segundo Fernandes, existem projetos para o complexo da Polar e a administração municipal está em processo de avaliação dos prédios que permitem o reaproveitamento. “Se tiverem bons, já existem projetos. Se não tiverem, será demolido e construído outro. Como é algo demorado, não tinha tempo para esperar. Não conheço nenhuma cidade que tem um terreno público na área central sem uma função social, agora teremos”, finaliza.
