Jornal Nova Geração

VALE DO TAQUARI

Crimes de estelionato crescem 240% em três anos

Número de ocorrências policiais por perda de dinheiro ou objeto em golpes mais que triplicou na comparação entre os primeiros semestres de 2019 e 2022. Uso da tecnologia puxa aumento dos casos e dificulta recuperação de valores

Popularização do celular como carteira digital exige mais cuidados. Golpes e fraudes virtuais representam a maioria dos estelionatos. Crédito: Divulgação

Nos seis primeiros meses deste ano foram registrados 1,2 mil ocorrências de estelionato na região. O número supera os dados de 2020 e representa aumento de 240,4% no comparativo com 2019. De acordo com especialistas, esse tipo de crime cresce com o uso de ferramentas digitais e a popularização do celular como carteira digital.

Entre as modalidades mais comuns, estão a clonagem de aplicativos de mensagem, anúncios falsos de produtos e serviços e ligações que simulam contato de agência financeira para obter dados bancários. Esses golpes representam, em média, seis ocorrências policiais ao dia no Vale do Taquari.

Das cidades da região, Lajeado tem o maior número de registros por estelionato. São 455 casos neste primeiro semestre. Na sequência aparece Teutônia com 154 registros. Ao mesmo tempo que aumentam os casos, a polícia enfrenta dificuldades para recuperar os valores.

Conforme o delegado Humberto Messa Roehrig, titular da Delegacia de Polícia em Estrela, desde a pandemia houve um aumento significativo dos casos de estelionato, a maioria deles com algum vínculo por meio de redes sociais. Outros indicadores criminais, a exemplo do furto e roubo, reduziram.

“O padrão dos criminosos mudou. Antes se tinha muito o golpe do bilhete e outras ações de forma presencial. Agora os crimes são virtuais e ganham escala maior”, alerta Roehrig. Ele atribui a dificuldade em recuperar os valores por conta do processo quase que instantâneo na transferência do dinheiro. Em muitos casos os valores são movimentados por várias contas a fim de dificultar a identificação do destino.

O delegado também alerta pelo fato de ser um crime de comportamento ativo da vítima. “É quase como deixar a casa aberta ou a chave dentro do carro. A melhor forma de evitar é cuidar os acessos e as informações repassadas.”

Em nível nacional, a estimativa do Banco Central é que os golpes no sistema financeiro nacional devem alcançar a marca de R$ 2,5
bilhões neste ano. Desse montante, pelo menos 70% tem a ver com o Pix. Esse número pode ser ainda maior pelo fato de nem todos os casos serem registrados na polícia ou informados aos bancos.

Família de haitianos perde R$ 30 mil

O casal Jean Lexume Joseph, 45, e Wikline Lexume, 36, perdeu as economias de seis anos ao tentar comprar passagens e trazer para Estrela os quatro filhos que moram no Haiti. Eles foram atraídos por um anúncio com valor mais baixo e, após confirmarem o pagamento, não houve mais retorno do suposto representante da agência de viagens.

A investigação policial apurou que o valor foi transferido para uma conta na República Dominicana. Para avançar com a investigação, os policiais ainda dependem de autorização do outro país. Diante da repercussão em nível estadual e com a ajuda da comunidade, o casal conseguiu juntar o valor que perdeu no golpe.

Jean e Wikline contaram com a solidariedade dos colegas do frigorífico onde trabalham e desconhecidos. Eles arrecadaram pouco mais de R$ 30 mil. Com o dinheiro retomam o sonho e preparam a documentação junto ao consulado do Haiti no Brasil. “Não temos palavras para agradecer. Ainda não sabemos se vai ser o suficiente, mas vamos tentar trazer nossos filhos para cá”, comenta o casal.

Conscientização para evitar os crimes

O assessor de controle interno da Sicredi Integração RS/MG, Odair Thomas, acredita que a melhor forma de reduzir os casos de estelionato é por meio da conscientização. Ele também destaca o aumento expressivo dos casos desde a pandemia. “A cooperativa sempre investe forte em ferramentas para evitar fraudes, mesmo assim há situações na qual o associado é surpreendido.”

Entre os casos mais recorrentes, ligações ou mensagens que induzem o associado a liberar acesso ao celular. “Nossa orientação é que diante de qualquer situação estranha o associado fale com um familiar ou ligue na sua agência”, comenta Thomas. Com os recursos cada vez mais tecnológicos, em algumas situações os estelionatários simulam o atendimento do 0800 do banco e fazem com que o usuário digite dados pessoais.

Thomas alerta ao fato das instituições não solicitarem essas informações por meio de ligações. Outra forma de acesso indevido aos dados bancários é por link ou código enviado por mensagem de texto. Nessas situações se essas informações forem repassadas aos criminosos eles acessam de forma remota o aparelho celular e podem manipular o aplicativo.

Outro problema é o baixo índice de recuperação dos recursos. Com as transações instantâneas os bancos enfrentam dificuldade de bloquear as transferências antes que seja remanejado para outra conta. A situação é diferente para casos de estelionato com boleto falso ou cartão de crédito onde a chance de reaver o dinheiro é maior.

Engenharia social

Os golpes que envolvem ferramentas digitais utilizam cada vez mais a técnica da engenharia social. Nesses casos, os criminosos induzem os usuários desavisados a enviar dados confidenciais, infectam computadores ou fazem abrir sites infectados. Além disso, tentam explorar a falta de conhecimento da vítima.

Conforme o especialista em cibersegurança, Gerson Feil, está cada vez mais fácil fazer desvios de dados, por mais que as empresas trabalhem para garantir a segurança das suas estruturas. “A geração com mais de 30 anos não tem o mesmo cuidado comparado aos jovens que acompanham a evolução da tecnologia”, alerta.

Feil frisa que o descuido na hora de abrir um e-mail pode ser a entrada para um crime virtual. “Muitos não conseguem identificar esse risco e caem em golpes e comprometem a segurança das empresas, inclusive. A dica sempre é desconfiar de qualquer situação e não agir por impulso e pela emoção”, observa o especialista.

Ele lembra de duas situações recentes. Em um dos casos, os criminosos tiveram acesso aos dados da empresa quando ligaram para fazer uma suposta atualização remota no aplicativo bancário.

No outro caso, os estelionatários alegaram que era preciso fazer um procedimento de segurança pois haviam identificado uma transação financeira suspeita.

Na maioria das situações, de acordo com Feil, os ataques são efetivados por conta da falha humana. “Quando a pessoa autoriza o acesso, os criminosos têm êxito em seus objetivos e fazem as transações ou pedem resgate pelo sequestro de dados.”

Além do descuido, especialistas indicam a rápida transformação tecnológica e dificuldade na investigação policial. Segundo Feil, mesmo com o uso de antivírus e outros filtros a metodologia dos golpes evoluiu e faz a cada dia mais vítimas e há dificuldade em recuperar os valores.

Casos de estelionato no 1º semestre

  • ANTA GORDA –  4
  • ARROIO DO MEIO – 65
  • ARVOREZINHA – 7
  • BOM RETIRO DO SUL –  38
  • BOQUEIRÃO DO LEÃO – 6
  • CANUDOS DO VALE-  4
  • CAPITÃO – 3
  • COLINAS – 4
  • COQUEIRO BAIXO – 2
  • CRUZEIRO DO SUL – 28
  • DOIS LAJEADOS –  5
  • DOUTOR RICARDO – 3
  • ENCANTADO – 97
  • ESTRELA – 138
  • FAZENDA VILANOVA – 6
  • FORQUETINH A – 3
  • ILÓPOLIS  – 6
  • IMIGRANTE  – 6
  • LAJEADO – 455
  • MARQUES DE SOUZA  – 8
  • MATO LEITÃO –  5
  • MUCUM – 9
  • NOVA BRÉSCIA – 6
  • PAVERAMA – 14
  • POCO DAS ANTAS –  7
  • POUSO NOVO – 6
  • PROGRESSO – 11
  • PUTINGA – 3
  • RELVADO – 3
  • ROCA SALES – 31
  • SANTA CLARA DO SUL -18
  • SERIO – 2
  • TABAÍ – 8
  • TAQUARI – 49
  • TEUTÔNIA – 154
  • TRAVESSEIRO – 5
  • VESPASIANO CORRÊA – 0
  • WESTFÁLIA – 10

TOTAL NO VALE DO TAQUARI = 1229

TOTAL NA MICROREGIÃO = 192 (15,62%)

 

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