Jornal Nova Geração

BOM RETIRO DO SUL

Dia da Consciência Negra marca a luta por representatividade e respeito

Eventos marcam a data, e exaltam as tradições e valores da cultura negra no Vale do Taquari

Dia 20 de novembro é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data resgata a memória e as tradições da cultura afro, mas reforça, sobretudo, a necessidade do respeito. Nas cidades de cobertura do jornal NG, a população afrodescendente representa 3%. Os maiores percentuais, segundo os dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maior população negra está em Fazenda Vilanova, 5,5%, seguida de Bom Retiro do Sul, com 5,1%.

A costureira Cátia Andrea Soares de Mello, 51 anos e a advogada Aline da Rosa Ajardo, 25 anos, são as protagonistas destas narrativas da vida real. Elas relatam racismo estrutural, preconceito religioso, mas também força, coragem e anseio por mais respeito e representatividade. Entre os caminhos para alcançar os objetivos, um ingrediente é fundamental: a educação.

Cátia faz parte do Candomblé. Segundo ela, a discriminação religiosa está muito ligada ao racismo. “Todas as religiões têm seus rituais. A nossa também tem. Não temos que ser aceitos. Temos é que ser respeitados. Afinal, nós existimos”, enfatiza Cátia. “Tanto o racismo quanto a intolerância religiosa são crimes previstos na lei”, lembra.

A candomblecista reforça que os novos médiuns não podem deixar morrer as tradições da religião afro. “A religião, assim como o povo negro, foi trazida a força, sim, mas faz parte da nossa cultura e precisa ser preservada.” Cátia acredita que a cura para o preconceito com a raça negra está na educação. Segundo ela, este é o é o único meio de frear este processo.

“Quando o negro tem conhecimento de como veio parar aqui, ele consegue se posicionar bem melhor. A educação é a base de tudo. O conhecimento me proporciona o poder de me posicionar. Enquanto eu não tiver opinião, continuarei sendo escrava”, sublinha.

Cátia acredita que a cura para o preconceito está na educação

Consciência negra é marcada por atividades culturais

Em Estrela, no dia 20, a partir das 14h, haverá tarde cultural com contação de histórias, roda de conversa e show de talentos. O evento será encerrado com roda de samba. A programação ocorrerá na rua Augusto Frederico Markus (antiga Saraí), no Quiosque 820, próximo ao Posto Superporto.

Em Bom Retiro do Sul, a consciência e a cultura negra serão tema de dois eventos, no domingo, dia 21. Às 9h30, ocorre um ato de Axé, em frente à prefeitura de Bom Retiro do Sul. Já das 17h às 22h, ocorre o festival “Somos Todos Black – Ancestralidades e Contemporaneidade”, no Parque Pôr do Sol. Todas as atividades são abertas ao público em geral e são formas de reforçar a importância do Dia da Consciência Negra na região.

Racismo estrutural

Aline faz parte da Comissão Estadual de Igualdade Racial da seccional gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ela considera que as cotas são uma forma de reparar a história. “As cotas das universidades são um exemplo do que funciona. Deveria haver cotas também no mercado de trabalho”, relata. Seguindo na militância em prol do espaço de fala em relação à consciência negra, Aline diz que a luta é muito grande. “Não tenho um objetivo específico. É um trabalho de formiguinha, que vai gerando resultados.”

“O que mais reflete a desigualdade é realmente o mercado de trabalho. Quero ver o negro em posição de igualdade, não apenas ocupando lugar na limpeza, no café, na cozinha.” Aline conta que sofreu ao trabalhar em uma repartição pública. Ao ser admitida como estagiária, recebeu a advertência de que não deveria fazer muitas perguntas.

Além disso, e diferentemente de todos os colegas, ela tinha que almoçar fora da sala de trabalho. “É o racismo estrutural. Se questionarmos as pessoas sobre racismo, elas vão negar, mas então por que eu fui tratada com toda essa diferença?”, questiona a advogada.

Para Aline, a desigualdade racial é maior no mercado de trabalho
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