As iniciativas para a retomada da navegação e melhorias na área portuária para utilização como espaço de lazer atraem as atenções da comunidade ao Rio Taquari. O anúncio da dragagem da hidrovia até Estrela reabre a possibilidade de chegada de novos empreendimentos, enquanto os investimentos em espaços para eventos no complexo consolidam programações na região.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) encaminha a contratação de uma empresa que fará um estudo na hidrovia, além de supervisionar atividades de limpeza e sinalização. A homologação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) ainda no início de maio e a partir da assinatura do contrato a vencedora da licitação poderá iniciar as atividades. A CHD Cartografia, Hidrografia e Digitalização de Mapas, do Rio de Janeiro, receberá cerca de R$ 4,6 milhões para execução dos serviços.
O contrato tem prazo de 32 meses – ou 960 dias – para melhor programação das equipes e “garantir a continuidade e qualidade dos serviços”, de acordo com o edital. O Dnit, com isso, quer manter a mesma equipe técnica por mais tempo, sem a necessidade de substituições.
Em 2020, a autarquia nacional contratou uma empresa para fazer a dragagem do rio, com investimento de R$ 16,1 milhões. O prazo deste vínculo é de 50 meses, ou seja, até 2025. Outros dois editais estão em andamento para definir empresas responsáveis pelo fornecimento, instalação e manutenção da sinalização náutica. Juntos, os dois processos somam R$ 9,2 milhões.
O Dnit anunciou em fevereiro investimentos de R$ 34 milhões para a dragagem e sinalização do rio. Os processos em andamento somam cerca de R$ 30 milhões, uma vez que licitações foram finalizadas com valores abaixo do projetado. A previsão para este ano é que sejam retirados 60 mil m³ de material nos 86,5 quilômetros navegáveis do Taquari.
Repercussão positiva
A Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log) acompanha os desdobramentos do processo, com a expectativa de uma melhor utilização da área portuária, não apenas para a navegação do rio, mas para a atração de investidores ao entorno. “Esses trabalhos são muito importantes para o nosso desenvolvimento econômico”, pontua a presidente da estatal, Elaine Strehl.
“Muitas empresas manifestaram interesse, mas aguardam essa situação se resolver. Com essa confirmação, elas estarão mais otimistas e poderão ocupar alguma área dentro do complexo”, acrescenta. A gestora destaca que, conforme informações repassadas pelo Dnit, as atividades na hidrovia devem iniciar em agosto.
E-Log em Brasília
A diretora administrativo-financeira da autarquia, Andressa Traesel, foi nesta semana ao Distrito Federal, junto ao prefeito de Estrela, Elmar Schneider, para agendas em Brasília. Além da visita ao Dnit, houve uma ida à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), para tratar da ampliação da pista do Aeródromo Regional.
Um dos principais objetivos da viagem foi ter um contato presencial com o setor de Patrimônio do governo federal, para acompanhar os trâmites para retirada de bens móveis do Porto. Em outubro do ano passado foi iniciado um processo para limpeza do complexo, no entanto alguns itens inservíveis devem ter autorização para baixa e descarte.
Olhar especial ao turismo
Outro processo tem o objetivo de tornar o complexo portuário em uma área de lazer. Um espaço que já é utilizado por pessoas que buscam maior proximidade com o rio recebe melhorias desde o início da semana e deve se caracterizar como um novo ponto turístico. O município recebeu autorização especial para intervenções em área de preservação permanente (APP), que iniciaram na segunda-feira, 26.
O plantio de duas mil mudas de caliandras e a implementação de um sistema de drenagem visam minimizar os efeitos das cheias no local e facilitar o acesso de visitantes ao espaço junto às margens do Taquari. Hoje o espaço serve como um acesso ao rio para pequenas embarcações, mas não há um uso direcionado ao turismo, como o Parque da Lagoa.
A ideia da presidente da E-Log é transformar o local. “Pensamos na possibilidade de construir estruturas que os visitantes possam ter um contato maior com a natureza”, projeta. Também para o médio e longo prazo, há planos para pavimentação do trecho que dá acesso à plataforma junto ao porto e abertura da área entre o Arroio Boa Vista e a BR-386 para atração de empresas.
O muro na área de circulação portuária começou a ser preparado nessa semana para receber uma nova roupagem. O artista Samuel Hergesell faz oficinas nas escolas do município, pois a pintura receberá o apoio das crianças, que vão auxiliar na renovação do local na próxima semana, após o desenho do chamado esboço.
Calendário cheio
O cronograma de eventos preparado para o complexo do Porto de Estrela tem quatro programações confirmadas para o segundo semestre. A principal delas, a Estrela Multifeira 2023, tem grande procura por parte dos expositores e datas marcadas para novembro. Na última atualização feita pelos organizadores, cerca de 80% dos espaços haviam sido comercializados.
A feira escolar Estrelas do Conhecimento ocorre entre os dias 28 e 31 de agosto, com a participação de instituições de todo o Vale do Taquari. A 2ª edição do Congresso de Logística dos Vales ainda não tem cronograma definido, mas deve ocorrer junto à Multifeira. Por fim, uma programação voltada ao setor de animais de estimação, a Feira Pet, deve ocorrer no início de agosto.
Para atender à carga de visitantes nos eventos, a E-Log articula junto ao setor de Meio Ambiente do governo a possibilidade de liberação de um espaço para uso como estacionamento. A autarquia projeta que as autorizações para intervenção no local estejam disponíveis antes da principal feira do município.
Porto ao longo dos anos
Inaugurado em 1977, o Porto de Estrela teve o auge como base para o transporte de cargas no Rio Taquari na década de 1980. Após entraves burocráticos, mudanças de gestão e o consequente enfraquecimento do modal hidroviário, a navegação foi desativada em 2014. No mesmo ano, a responsabilidade sobre o complexo passou do governo federal para o estado. Três anos mais tarde a União retomou o controle sobre o espaço e em 2020 o município recebeu o direito de uso da área.
A partir da criação da Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log), alguns movimentos ocorreram, como a concessão dos silos para a empresa Nutritec e os avanços na articulação com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para recuperação da hidrovia no trecho entre a barragem, em Bom Retiro do Sul, e o porto.
