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FORÇA E AMPARO

Especialistas alertam para cuidados com a saúde mental após enchente

Mês dedicado à prevenção do suicídio, o Setembro Amarelo também é um alerta à saúde mental. Especialistas dão dicas de como lidar com o assunto depois da tragédia no Vale do Taquari, e voluntários dão exemplo de solidariedade

Nos espaços desenvolvidos pela Univates, as crianças puderam brincar, contar histórias e interagir de forma lúdica

O cuidado à saúde mental é um assunto que não sai de moda. Se o tema já foi um tabu, hoje, é compartilhado por profissionais da saúde, inclusive pelas redes sociais. Não é preciso um grande evento para que a atenção ao tema seja importante.

Por outro lado, tragédias como a que o Vale vive desde a segunda-feira, 4, quando a enchente atingiu milhares de famílias, ganha ainda mais valor. A temática também é um dos destaques do mês, com a campanha de prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo.

Com experiência como voluntária na tragédia de Brumadinho, quando a barragem rompeu em 2019, e tendo atuado no Haiti, a psicóloga Marly Perrelli, moradora do Paraná, veio ao Vale do Taquari para auxiliar as famílias das vítimas e pessoas desabrigadas pelas cheias do Rio Taquari. Ela faz parte da Rede de Apoio Psicossocial (RAP), que busca levar saúde mental às comunidades.

Entre as principais atividades desenvolvidas pelo grupo, ela destaca a informação. “As pessoas muitas vezes não sabem como se comunicar, o que dizer e o que não dizer. Então viemos para isto também”, reforça.

Depois da enchente

Ouvir o que as vítimas da enchente têm para dizer também é uma forma de ajudar quem perdeu tudo o que tinha. Nos dias seguintes à tragédia, é comum que os sobreviventes repitam muitas vezes as mesmas histórias sobre o desastre.

Profissionais destacam que o cuidado com a saúde mental, desde o princípio, é fundamental. “Tem muitas pessoas que agora estão buscando pelo mínimo, por comida, por casa. A parte emocional não vai aparecer agora. Mas em breve teremos uma onda de doenças mentais e de transtornos psiquicos”, afirma a psicóloga Muriana Muccillo.

Ela ressalta que, com a ajuda de profissionais, é possível reconstruir referências e enfrentar os medos. Para facilitar e incentivar consultas com psicólogos e psiquiatras, a plataforma SOS Brasil Psicanálise oferece atendimentos gratuitos. O telefone para contato é (53) 98104-0202. Conforme Muriana, são mais de 70 psicanalistas disponíveis para atendimento emergencial, que pode chegar a oito sessões.

Cuidado com as crianças

Muriana lembra que, no caso das crianças, as dificuldades podem ser maiores. “É importante que as crianças sejam amparadas, porque é nesse momento que elas estão construindo o alicerce psíquico”, explica.
Se os traumas não forem tratados, é possível que eles perdurem em toda a vida adulta.

Sorriso dos pequenos

Com o objetivo de cuidar da saúde mental das crianças, outras iniciativas voluntárias também se dedicam à causa. Desde 2021, a estudante Laura Horn participa do projeto “E Seu Sorrir?”, da Univates que promove ações de cuidados em saúde por meio da figura do palhaço. Em geral, as ações ocorrem em hospitais. Mas, durante a semana passada, o cenário mudou.

Enquanto as famílias de Lajeado estavam no abrigo, os palhaços deram conta da alegria, em especial, dos pequenos. “É um projeto que abrange um público diferente. Nesse momento, as crianças estão sem entender as coisas e é importante elas terem um pouco de carinho”, comenta Laura.

Os pequenos chegaram a escrever cartinhas aos participantes. “A gente ouvia muitas histórias, crianças perguntando se pegou enchente na nossa casa, contando que tinha um brinquedo que tinha ido embora”.

Depressão

Quando há um desequilíbrio na saúde mental, o quadro pode se transformar em doença. A depressão é um exemplo. Entre os principais sintomas, estão a ansiedade, falta de vontade, perda ou aumento de peso e pensamentos negativos que podem, em casos mais extremos, levar ao suicídio. Por isso, a atenção aos sinais, por parte dos amigos e familiares é essencial.

Em entrevista publicada pelo Hospital Bruno Born (HBB), O médico psiquiatra do hospital de Lajeado, Bruno Lo Iacono Borba explica que o suicídio pode ocorrer a partir de diversos fatores. “O cenário em nossa região mostra índices elevados de suicídio e tentativas”.

Borba reforça que a principal ajuda que alguém pode oferecer é a escuta. “Disponibilizar-se a um diálogo empático, sem críticas e julgamentos”. O especialista reforça a necessidade de procurar atendimento no serviço de saúde mais próximo.

FATORES DE RISCO
• Histórico familiar
• Transtornos psiquiátricos correlatos
• Estresse crônico
• Ansiedade crônica
• Disfunções hormonais
• Sedentarismo e dieta desregrada
• Vícios (cigarro, álcool e drogas ilícitas)
• Uso excessivo de internet e redes sociais
• Traumas físicos ou psicológicos

Sintomas da depressão

• Alterações de humor ou irritabilidade;
• Ansiedade e angústia;
• Desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas;
• Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer;
• Desinteresse, falta de motivação e apatia;
• Sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero e desamparo;
• Pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa auto-estima;
• Sensação de inutilidade;
• Interpretação distorcida e negativa da realidade;
• Dificuldade de concentração e esquecimento;
• Perda ou aumento do apetite e do peso;
• Insônia ou despertar matinal precoce.

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