O município sediou nessa semana um curso para busca e salvamento em cheias urbanas. A formação foi voltada a integrantes de defesas civis, e contou com a participação de representantes dos grupos de Bom Retiro do Sul, Roca Sales, Estrela e Lajeado. A organização foi da Associação Gaúcha de Resgate e Salvamento (Asgresci), que tem sede em Teutônia.
O principal objetivo foi preparar entes civis para as ações, em eventuais ocorrências de cheias. Sobretudo como uma forma de alinhamento com pessoas voluntárias em resgates nesses eventos. A base do treinamento foi o manual europeu, elaborado por 16 países, que apresentaram contribuições dentro da realidade de cada local.
O instrutor foi o português Francisco Rocha, pós-graduado em salvamento técnico e socorro, e que dirige a Escola Portuguesa de Salvamento e atua na Associação Europeia de Equipes Voluntárias de Proteção Civil.
ENTREVISTA
“Conheço técnicas da água, mas as melhores pessoas para conhecer o rio são vocês”
Francisco Rocha – diretor da Escola Portuguesa de Salvamento
Jornal Nova Geração: Qual a dinâmica com o grupo, dentro do treinamento?
Francisco Rocha: Em um primeiro momento, ensinamos os participantes a saber lidar e identificar os riscos do rio, saber interpretar os caminhos do rio, onde a água vai correr, onde as vítimas podem ficar presas. Por isso nós identificamos que são os riscos do rio. Depois avançamos para as técnicas de sobrevivência, que é ensiná-los a estar dentro da água. Caso os próprios socorristas venham a ser arrastados pelas enchentes, que eles possam sobreviver no rio, saibam ser arrastados e se posicionem para ser salvos, se virar o barco ou caírem na água. Temos outro componente que é saber salvar, onde ensinamos várias manobras baseadas em técnicas de baixo risco, que utilizam a própria embarcação e a margem do rio, para não precisar entrar na água. E passamos para técnicas onde é necessário estar na água, dentro de regras de segurança baseadas em não-natação. Por fim, as técnicas que envolvem natação, quando nada mais funcionou.
O quanto é importante esse tipo de treinamento, diante do cenário que a região apresenta?
Rocha: Eu estive aqui no ano passado, quando a região estava em seca. Agora é uma diferença enorme, com enchentes gravíssimas em setembro e agora em novembro, além da previsão de outras enchentes. Na realidade, nós tentamos sensibilizar a parte operacional, de intervenção, e também as pessoas. Nunca vamos conseguir evitar a vinda das cheias, temos que aprender a conviver com elas. Aprender uma forma de trabalhar em nosso favor e preparar as comunidades para lidar com a água de uma forma segura. Fazemos isso de uma forma descontraída. Eu costumo dizer, ‘conheço técnicas da água, mas as melhores pessoas para conhecer o rio são vocês. Os perigos, vocês vão identificar’.