Jornal Nova Geração

COLINAS

Guardiões do relógio mantêm tradição centenária

Comunidade evangélica de Corvo mantém relógio fabricado na década de 1940 e sinos alemães com quase um século. Tecnologias auxiliam na manutenção e acionamento

Sinos vindos de Bochum, cidade da província alemã da Renânia do Norte, são hoje afinados usando aplicativo de celular. Crédito: Marcelo Grisa

Na torre de uma igreja centenária está uma parte da história da comunidade. Antes da internet, os trabalhadores, especialmente no campo, sabiam quando estava próximo ao meio-dia por conta das badaladas do relógio às 11h30min. “Quem estava muito longe precisava de um dia de sol e calcular a sua própria sombra para ter uma ideia de quando largar a lavoura para o almoço”, conta o cabeleireiro Raul Spellmeier.

Raul cuida da torre do relógio há 21 anos na sede da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) em Colinas. O trabalho, que começou por necessidade quando ele fez parte da diretoria da comunidade, transformou-se em fascinação pelas engrenagens. “Havia uma pessoa contratada para isso no final dos anos 1990, mas nem sempre ele podia. Eu observei o que ele fazia e fui aprendendo”, explica. Hoje, qualquer problema com o sistema do templo, que atualmente passa por reforma, é resolvido. “Isso aqui faz parte da história”, orgulha-se.

O dispositivo é antigo. O relógio de cordas,composto por engrenagens, pesos e eixos de metal, foi construído pela Schwertner & Filhos em 1949. A empresa, que produziu mais de 200 relógios de torre instalados em oito estados brasileiros, era comandada à época por Aloysio, filho do imigrante Bruno Schwertner.

Os sinos de bronze, entretanto, antecedem o mecanismo em mais de 20 anos. Em 1927, duas unidades vieram de Bochum, na Alemanha, instaladas desde a construção da torre. Neles, ainda é possível ler o nome da comunidade do Corvo, que dava nome ao distrito que se tornou o município de Colinas.

A tecnologia auxilia na manutenção: Raul utiliza um aplicativo de celular, por exemplo, para fazer a afinação dos sinos. Os sinos são acionados por motores, que fazem com que martelos acertem os lados dos sinos pelo lado de fora para produzir o som amplo do instrumento.

Toda a estrutura passou por modernizações com o passar dos anos. Entre 1995 e 1996, a estrutura do relógio foi automatizada, sem descaracterizar o mecanismo original de movimentação dos ponteiros no alto da torre. “Até então, alguém precisava vir aqui a cada seis dias para dar corda”, lembra Marcos Pott, presidente da comunidade. A atualização foi feita durante a gestão de seu pai, Roberto Pott, quando Raul era tesoureiro da IECLB.

Comunicação e comunidade

Antes de Raul, Theodoro e Arno Froeder cuidaram da torre do relógio por 28 anos. Pai e filho administravam uma borracharia quase em frente ao templo, que fica na Rua General Osório, a principal da cidade. Dessa forma, eles poderiam tocar o sino com celeridade.

Nas comunidades das menores cidades do Brasil, os sinos de uma igreja são também, ainda hoje, uma importante fonte de informação. Em Colinas, os falecimentos de membros da IECLB ainda são difundidos pelas badaladas fora de hora. Duas badaladas do sino pequeno para crianças, duas para mulheres e três para homens.

Arno, hoje com 72 anos, ainda mora muito próximo ao local, de onde vê a continuidade de seu trabalho. “A gente precisava lubrificar bem tudo e puxar os pêndulos manualmente. Às vezes ia dar corda no relógio tarde da noite, etc. Tudo para funcionar direitinho”, recorda.

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