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ECONOMIA

Imóveis desocupados e oportunidades de negócios

Criação de pontos gastronômicos e preservação da história dos casarios impulsionam a venda das casas antigas. Apesar do número de residências vazias ter aumentado nos últimos 12 anos, busca por estas estruturas aumentou no pós-pandemia

Casa em Imigrante passa por reformas desde 2019 (Foto: Karine Pinheiro)

Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o número de residências desocupadas atesta o aumento da estatística nos últimos 12 anos e abre discussão para novas formas de utilização das propriedades, sobretudo as casas antigas com aspectos históricos, também chamadas de casarios. Do total de domicílios particulares na região, 10,72% estão inocupados.

Em contrapartida, a compra de casas antigas para construção de empreendimentos cresceu no pós-pandemia. A avaliação é do corretor de imóveis Lucas Horn. Ainda que seja difícil vender estruturas mais danificadas, o fortalecimento do turismo fez com que empreendedores quisessem reformar os espaços para receber visitantes.

“Os empresários estão se preocupando em recriar ambientes e manter aspectos históricos, com traços mais rústicos também. A dificuldade está em imóveis que não sejam históricos e também na oferta. Existe grande demanda de mão de obra, mas se o empreendedor entende que esse tipo de investimento tem demanda, pode ser um bom negócio”, explica Horn.

O corretor também destaca que os casarios também são procurados para serem transformados em casas de fim semana, principalmente no interior. “Em Colinas isso acontece bastante. As pessoas não precisam ter medo de investir nesse tipo de imovel. Além disso, os roteiros turísticos precisam destes investimentos”, ressalta.

Rafael Porsche, empresário em Imigrante, adquiriu em 2018 uma antiga casa que outrora havia pertencido à família. Datada no início de 1900 , a propriedade passa por uma série de reformas estruturais. O objetivo é abrir um restaurante e apostar nas gastronomias alemã e italiana ainda em outubro.

O casario ficou desocupado por anos. Além de readquirir um bem familiar, Porsche percebeu a oportunidade de transformar o local. “Foi construído pelo meu tataravô e agora vamos trabalhar a partir dessas origens. Vamos manter o aspecto histórico, visto que a casa foi construída no início do século passado, e mesmo com a reforma, também tem materiais da década de 1940 tamvbém”, afirma.

Na avaliação dele, os custos de comprar uma propriedade antiga não difere de adquirir em condições atuais. O empresário destaca que procurou manter o aspecto original, como as paredes com pedras de areia, características comuns das casas mais antigas em Imigrante. “É um grande investimento financeiro. O espaço é reformado desde 2019”, conta. O futuro restaurante já conta com materiais como mesas, cadeiras, bar e parte da cozinha.

Preservar o passado e pensar o futuro

Uma das mais antigas propriedades localizada no Centro Cidade Baixa, em Bom Retiro do Sul, também virou ponto gastronômico. Construída em 1948 e após abrigar várias famílias, Diego e José Arnildo Schmidt decidiram abrir uma hamburgueria no local. José Arnildo adquiriu a casa há cerca de dez anos, alugou algumas vezes e tentou vender outras. Por vezes o espaço ficou sem utilização. Atualmente, a casa é cedida ao projeto do filho.

Devido a última cheia no município, a estrutura ficou comprometida. A esposa de Diego, Jéssica Schmidt ressalta que durante a reforma, foi priorizado manter o aspecto histórico do casario. “Ela ficou uns dois anos fechada até decidirmos trazer a hamburgueria para cá. Mantemos tudo original, somente uma parede precisou ser refeita. Também usamos o assoalho de madeira antigo para fazer as mesas”, conta.

Antes da reforma, ela relata que o projeto arquitetônico foi apresentado ao governo municipal junto à uma sugestão de transformar o bairro em uma vila gastronômica. A casa que possui paredes com tijolos à mostra e camadas de cimento gastas, fachada e lajotas originais é um dos pontos que recebem diversos turistas, além dos bom-retireneses.

Recentemente, o governo de Bom Retiro do Sul produziu um inventário das casas antigas. O objetivo é que a população possa conhecer e conservar os espaços para evitar o esvaziamento. Conforme o levantamento, muitas casas ainda são residências. No entanto, outras seguem deterioradas.

Prédio antigo é exemplo de imóvel vazio com possibilidades de receber empreendimento às margens da ERS-129 (Foto: Karine Pinheiro)

Prédio comercial e histórico

Além de casas antigas, estruturas comerciais antes desativadas também receberam nova utilização na região. Depois de uma década sem atividades, as instalações da Calçados Blip voltaram a abrir as portas no bairro Canabarro, em Teutônia. Uma das investidores, Jeniffer Harth explica que o interesse de adquirir o espaço surgiu devido à relação comercial com os antigos dirigentes.

Na avaliação dela, a compra de imóveis antigos e históricos é uma tendência do mercado imobiliário. “Inúmeros investimentos desse tipo têm ocorrido nos últimos anos. Precisamos pensar grande e oportunizar às pessoas da nossa região potenciais negócios que movimentam a economia e melhorem a vida das pessoas através do empreendedorismo”, analisa.

Jeniffer ressalta que a ideia inicial foi manter o aspecto visual de indústria, que remete a memória do que a antiga empresa representou para Teutônia. “É uma forma de manter a parte da história das pessoas que vivem ali. O empreendimento tem um valor histórico e de valorização para o bairro Canabarro” afirma.

Panorama regional de domicílios desocupados

Em 12 anos, o número de imóveis vazios no Vale do Taquari subiu de 10,9 mil para 18,6 mil, o que representa um aumento de 70,13%. Ainda assim, o percentual é inferior ao registrado no estado. No mesmo período, o RS subiu essa marca em 85,2%.

Mesmo que estejam disponíveis, alugados ou comprados, é considerado vago o domicílio que não abrigue um morador. São também compreendidos na pesquisa imóveis de uso ocasional, como casas de campo.

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