Jornal Nova Geração

CRISE NA COOPERATIVA

Languiru encaminha venda de frigorífico para subsidiária da JBS

Unidade em Poço das Antas seria negociada por cerca de R$ 120 milhões. Anúncio de acordo entre multinacional e governo do Estado para estabelecer formato de pagamento deve ocorrer nas próximas semanas

Planta produtiva de Poço das Antas deve ter venda encaminhada nas próximas semanas (Foto: Jhon Willian Tedeschi)

Na semana em que completou 68 anos, a Languiru projetava encaminhar a venda do frigorífico de suínos, localizado em Poço das Antas. À medida em que as tratativas com a multinacional JBS avançam, a expectativa por uma definição aumenta na comunidade regional. Até agora, são cerca de quatro meses de negociações que ocorrem em sigilo.

Está projetada a assinatura de um protocolo de intenções entre a empresa e o governo do estado para o uso de créditos tributários como parte do pagamento. A compra seria encaminhada pela Seara Alimentos, que faz parte do grupo JBS, por valores que poderiam chegar a R$ 120 milhões. Para ser encaminhada a tratativa, a Assembleia Legislativa (ALRS) precisa aprovar uma legislação que autorize esse modelo, situação em debate pelos parlamentares, mas sem projeto em tramitação.

Um grupo de trabalho foi formado no meio do ano para viabilizar o setor de proteína animal e atua próximo aos movimentos relacionados à crise da Languiru. Líder desta equipe, o secretário de Desenvolvimento Econômico do RS, Ernani Polo, diz que “seguem as tratativas, mas não há definições”.

Outra postulante à compra do frigorífico, a Cooperativa de Suinocultores dos Vales (Coosuval) aponta que mantém a estratégia. “Ainda estamos no páreo”, diz o presidente Luiz Bayer. A Coosuval diz ter um processo em tramitação contra a Languiru, onde pede prioridade na negociação da planta. As informações estão sob sigilo judicial.

Em assembleia na terça-feira, 14, a posição foi reforçada junto aos associados. A cooperativa afirma que apenas com a resposta da Languiru à carta de intenções apresentada, os investidores poderão liberar o dinheiro. De acordo com informações extraoficiais, os parceiros da Coosuval seriam estrangeiros, que participariam das exportações.

Quatro meses de fechamento

A unidade industrial da Languiru no município foi inaugurada em abril de 2012 e teve um investimento de R$ 60 milhões. Os abates foram encerrados no dia 30 de junho deste ano, iniciativa prevista no plano de reestruturação da cooperativa, anunciado em maio. Na época, a informação era da existência de duas propostas de empresas nacionais para a aquisição da estrutura, avaliada em R$ 160 milhões.

Em julho, a planta produtiva encerrou as atividades e deixou 620 funcionários desempregados. Além de assumir o frigorífico em Poço das Antas, a JBS atuaria em parceria na planta de abate de aves, em Westfália. A Languiru afirma não ter potencial produtivo para mais de 75 mil cortes diários, então a diferença seria repassada para a empresa multinacional.

Medidas e estratégias

Em entrevista à Rádio A Hora 102.9, o ex-presidente e atual liquidante da Languiru, Paulo Ricardo Birck comentou sobre as ações mais recentes, como o fechamento dos supermercados. “É difícil tomar uma decisão de fechar os mercados, mas deixá-los abertos sem mercadorias também não funciona.”

O gestor explicou que, para abastecer de forma eficiente os seis supermercados que ainda funcionavam, era necessário cerca de R$ 12 milhões. “Considerando uma margem de mercado de 2,5% a 3%, o investimento retornaria em 18 a 24 meses.” O cálculo foi determinante para a decisão de encerrar as atividades.

No entendimento de Birck, a cooperativa deve voltar às origens. “Prefiro pegar os R$ 12 milhões e injetar no campo.” Tanto é que, em relação ao número de funcionários, houve uma redução significativa, de 3,7 mil colaboradores para 886 no fim de outubro. A Languiru vai manter cinco segmentos: aves, leite, agrocenter, fábrica de rações e grãos.

LINHA DO TEMPO

1955 – Em 13 de novembro, 174 produtores se reuniram para fundar a Cooperativa Agrícola Mista Languiru Ltda. no então Distrito de Languiru, na época, município de Estrela.
1956 – As atividades iniciaram em um pequeno armazém de insumos agrícolas, em Teutônia.
1957 – A cooperativa alugou um frigorífico de suínos e bovinos em Linha Schmidt, hoje, município de Westfália, que depois virou abatedouro de aves.
1963 – A Languiru iniciou a construção da Indústria de Laticínios. Foi a primeira empresa no Brasil a envasar o leite em saquinho plástico.
1975 – A cooperativa incorporou outras organizações e transferiu a Fábrica de Rações para a margem da BR-386.

1976 – Foi aberto o primeiro supermercado Languiru.
1982 – A cooperativa desativou sua indústria própria de laticínios e terceirizou a industrialização.
1990 – Iniciaram as obras da unidade produtora de leitões e do incubatório, em Teutônia.
2002 – A cooperativa retornou ao mercado dos laticínios e reinaugurou a indústria em 2005.
2008 – Foi inaugurado o primeiro agrocenter, em Cruzeiro do Sul.
2012 – O Frigorífico de Suínos foi inaugurado em Poço das Antas.
2014 – A cooperativa entrou em outro ramo, ao inaugurar um posto de combustíveis em Teutônia.
2019 – A Languiru inaugurou suas primeiras farmácias e lançou o Leite Origem.
2022 – A cooperativa anunciou investimento de R$ 40 milhões no Porto de Estrela.
2023 – Dívidas e prejuízos vêm à tona e a cooperativa passa por liquidação.

Compartilhar conteúdo

PUBLICIDADE

Sugestão de pauta

Tem alguma informação que pode virar notícia no Jornal Nova Geração? Envie pra gente.

Leia mais: