Jornal Nova Geração

BOM RETIRO DO SUL

Mapeamento de construções históricas resgata memórias da cidade

Resultado de pesquisas, lançamento de cartilha educacional e primeiro espaço cultural tombado marcam o Fórum de Cultura e Memória. Iniciativa trabalhada em diversas frentes busca preencher lacunas da história da cidade

Livro é distribuído em todas as escolas de Bom Retiro do Sul. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

Preservar a história e pensar o futuro. O Fórum de Cultura, Patrimônio Arquitetônico e Memória apresentou resultados do projeto do Patrimônio Vivo na noite dessa quinta-feira, 22. O trabalho desenvolvido desde 2020 mapeou os casarios do município, bem como buscou meios para preencher lacunas na história da cidade. A iniciativa foi desenvolvida em parceria com a Univates.

Durante o evento foi entregue a carta patrimonial do primeiro espaço tombado em Bom Retiro do Sul, as Ruínas da Senzala. Além disso, foi feito o lançamento da cartilha educacional “História de Nossa Terra Bom Retiro do Sul”, material que é utilizado para aprendizados nas salas de aula.

O secretário de Administração e Planejamento, Carlos Dullius, destaca que, além de preservar as memórias, o objetivo é fazer com que a população conheça as memórias que estão espalhadas pela cidade. “Não poderíamos ter feito isso sem ajuda dos idosos e esperamos que os jovens se interessem”, afirma.

Entre os materiais apresentados, um inventário das casas antigas. “Essas propriedades não são tombadas, mas podemos pensar em uma parceria para manter elas cuidadas. Queremos conservar esse patrimônio’, afirma o secretário.

Parte da pesquisa foi feita em colaboração com a comunidade. As rodas de conversa com a terceira idade, do projeto Patrimônio Vivo em parceria com a Univates, reuniram diversas memórias dos idosos na construção da história do município. A partir desta iniciativa, foi feito o mapeamento de casarios.

A professora aposentada Dalva Rocha de Souza compartilhou suas vivências e seus conhecimentos sobre o desenvolvimento de Bom Retiro do Sul. “Meu pai tinha barcas e lanchas para levar a população até Cruzeiro do Sul. O Rio Taquari fazia parte da minha rotina”, relata.

O objetivo da administração municipal é fazer com que a população tenha consciência acerca da conservação dos patrimônios arquitetônicos. Para representar as propriedades, uma pintora local retratou as 23 casas em obras feitas com recursos da Lei Aldir Blanc. A artista visitou todos os patrimônios para representar os detalhes.

História que fica nas escolas

Além de colaborar com o resgate histórico nas rodas de conversas promovidas pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Dalva também trabalha na criação de um livro que retrata a história de Bom Retiro do Sul. O trabalho ocorre em parceria com a professora aposentada Maria Delci Klunck. Com vasta bagagem histórica e cultural, o objetivo das docentes é disponibilizar o material aos alunos do município.

“A Delci me convidou para fazer um livro, mas é um trabalho que exige uma pesquisa longa e complexa. Decidimos disponibilizar esse material, com uma linguagem mais fácil, para os jovens”, afirma Dalva. O único material, até então disponível com as memórias do município, é resultado de uma pesquisa acadêmica.
Na época em que atuava nas salas de aula, a professora tinha o costume de levar os alunos a campo para conhecer os principais pontos da cidade. “Para mim era fácil porque cresci aqui e sei como tudo aconteceu, então mostrava o rio, as casas e explicava como funcionava. Mas hoje, nem todos os docentes têm essa vivência”, destaca Dalva.

“Foi difícil encontrar fotos, textos e outros registros. No livro apresentamos a linha cronológica dos fatos, os outros nomes que a cidade teve, como Bom Retiro, Inhandava, até voltar a ser Bom Retiro do Sul”, salienta Delci. Outra parceria entre as professoras aposentadas também está presente na cartilha educacional. Em um material desenvolvido aos 50 anos do CTG Querência da Amizade, quatro músicas retratam as memórias do Pesqueiro do Vale, presentes também no material divulgado no noite dessa quinta-feira.

Primeiro patrimônio tombado

Um dos patrimônios mais antigos do Vale do Taquari, as Ruínas da Senzala na antiga Fazenda do Louzada foi anunciada como patrimônio cultural. O primeiro espaço tombado de Bom Retiro do Sul é datado em 1748. O secretário explica que a propriedade faz parte do complexo de fazendas que pertenciam a Taquari durante a colonização portuguesa.

“Essas ruínas funcionavam como casa de comércio e senzalas. Outras fazendas também se encontram em perfeito estado. Com isso, planejamos a criação de uma rota turística e histórica”, afirma Dullius. Na avaliação dele, a construção de atividades culturais não podem ser pensadas de forma isolada. “Queremos utilizar esses espaços que retratam o passado, mas trabalhar no desenvolvimento deles também, assim como com o inventário dos casarios”, comenta.

Preservar o passado e pensar o futuro

Uma das mais antigas propriedades localizada no Centro Cidade Baixa virou ponto gastronômico. Construída em 1948 e após abrigar várias famílias, Diego e José Arnildo Schmidt decidiram abrir uma hamburgueria no local. José Arnildo adquiriu a casa há cerca de dez anos, alugou algumas vezes e tentou vender outras. Atualmente, o espaço é cedido ao projeto do filho.

Devido a última cheia, a estrutura ficou comprometida. A esposa de Diego, Jéssica Schmidt ressalta que durante a reforma, foi priorizado manter o aspecto histórico do casario. “Ela ficou uns dois anos fechada até decidirmos trazer a hamburgueria para cá. Mantemos tudo original, somente uma parede precisou ser refeita. Também usamos o assoalho de madeira antigo para fazer as mesas”, conta.

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