Ampliar a geração própria de energia, contribuir no desenvolvimento da região e investir em alternativas sustentáveis. Esses são alguns dos propósitos da Certel a partir da construção da hidrelétrica na Barragem Eclusa, em Bom Retiro do Sul, e que terá o complexo na localidade de São Miguel, interior de Cruzeiro do Sul.
O investimento de R$ 250 milhões anunciado ontem, eleva a capacidade e oferta energética do Vale. Com estrutura projetada para gerar 35 megawatts (MW) de potência, deve abastecer até 100 mil pessoas. A obra também vai envolver cerca de 500 trabalhadores e abrir oportunidades de emprego e renda na região.
A expectativa é que a construção da hidrelétrica inicie em até um ano. O início depende de licenças, tanto do aspecto ambiental como da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável pela barragem.
Após o início dos serviços, as instalações devem ficar prontas em dois anos. Toda a estrutura de geração, que inclui a captação de água, turbinas e casa de máquinas, será instalada em área do lado de Cruzeiro do Sul. De lá, a energia será conduzida por linha de transmissão até a subestação de Estrela.
Além de ampliar a segurança no fornecimento elétrico, o investimento também cria expectativas aos municípios no incremento de renda. Os gestores municipais consideram ainda um atrativo para outros empreendimentos e desenvolver setores, como é o caso do turismo.
Emissão de licenças
A secretária estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, participou da solenidade ontem pela manhã na sede administrativa da Certel. Ela lembra que a instalação de uma usina hidrelétrica é um sonho antigo de líderes da região e reitera apoio do governo nesse processo.
“É motivo de comemoração ao Estado. Ainda esta semana será feita vistoria para linha de transmissão e da área das turbinas. Acreditamos que ficarão prontas em menos de um mês”, reforça Marjorie. Ela também destaca os avanços do Estado na geração de energia limpa.
Esse apoio institucional foi reiterado pelo secretário de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, Carlos Rafael Mallmann. “O Vale vai se fortalecer com a entrega de energia de qualidade para as casas e empreendimentos.”
Cooperativa duplica geração
Com quatro Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e duas usinas fotovoltaicas, a Certel gera 35 megawatts (MW) de potência. A partir da nova hidrelétrica a intenção é dobrar essa potência. “O investimento é a realização de um sonho. Estamos reinvestindo a receita do associado para atender demandas futuras e melhorar a qualidade de vida da região”, destaca o presidente da Certel, Erineo José Hennemann.
Para viabilizar a obra será necessário buscar recursos externos. Hennemann lembra que para o projeto da PCH
do Vale do Leite houve a união de cooperativas de créditos. No caso desse novo investimento há parceria com a Bom Retiro Energia, do empresário Leonel Pretto.
Em comparação com a estrutura no Salto do Forqueta, entre São José do Herval e Putinga, o complexo na Barragem Eclusa terá vazão 20 vezes maior e supera 440 m³ por segundo. Dessa forma, a cooperativa busca contribuir para a autossuficiência da região e do estado na geração de energia.
Pela avaliação do diretor de geração e comercialização, Julio Salecker, chega ao fim um período de um potencial subaproveitado. “Acredito que todos nós tínhamos vergonha por ter uma barragem e não aproveitar a estrutura para gerar energia.”
Acordo para destravar projeto
O empresário Leonel Pretto por mais de 30 anos travou disputa judicial com concorrente do setor. Agora, um acordo entre as companhias une forças para desenvolver um novo projeto liderado pela Certel. “Méritos à direção da cooperativa por convencer da importância deste investimento local.”
Pretto lembra que além de gerar energia, a estrutura não impacta no cotidiano da eclusa. Tanto a navegação quanto os fatores turísticos permanecem inalterados e tendem a evoluir a partir desse investimento. Ele considera também a importância para a segurança energética da região e o incremento no sistema nacional.
Empregos e investimentos
A construção da quinta e maior hidrelétrica da Certel é considerada um importante avanço para o Vale, em especial, às cidades na área da barragem. Além da geração de empregos durante a implantação da estrutura, deve atrair outros negócios para atender demandas do cotidiano desses trabalhadores.
Natural de Bom Retiro do Sul, o secretário estadual de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo, Mauro Hauschild, destaca oportunidades e potenciais. “A cidade precisa desse investimento e traz sonhos para mudar a realidade das famílias.”
Hauschild acompanhou por anos o trabalho do pai em área próxima da barragem e agora pretende empreender com uma pequena vinícola e hotel. Ele acredita que esse também será o sentimento de outras pessoas em oferecer opções para a permanência dos jovens no município.
Retorno aos municípios
A estimativa do governo de Cruzeiro do Sul é arrecadar por mês cerca de R$ 100 mil a partir do Imposto Sobre Serviços (ISS). De acordo com o secretário de Administração e Finanças, Volmir Dullius, esse foi o apurado em estudo no início do ano passado.
“Como se trata de um projeto antigo, há mais tempo são feitas projeções e, sem dúvida, muda a realidade do município. Tanto na arrecadação quanto na possibilidade de outros investimentos a partir desta obra”, considera o secretário municipal. Na percepção do prefeito, João Dullius, essa é uma conquista da região diante do engajamento de vários líderes e da força do cooperativismo. “Assim como o Cristo é do Vale, a hidrelétrica também será.”
Além da receita gerada para Cruzeiro do Sul, onde será instalada a hidrelétrica, há expectativa por royalties para outras três cidades na área alagada pela barragem. De acordo com o prefeito de Bom Retiro do Sul, Edmilson Busatto, todos esses detalhes ainda serão verificados e por isso não há uma projeção de retorno direto.
“Nesse primeiro momento o maior ganho para o município será a geração de emprego e renda”, avalia Busatto. Segundo o chefe do Executivo, o retorno da operação da barragem é baixo e não impacta no orçamento municipal, mas o cenário pode mudar a partir do investimento da Certel.
Ele considera também uma conquista para o Vale por conta de décadas de impasse até uma solução efetiva que deve destravar a obra. “A estrutura contribui no aspecto do turismo de contemplação e podemos avançar nesse sentido.”
