Jornal Nova Geração

OPINIÃO

O Vale do pecado

"Algum religioso, alguém da imprensa ou de outro setor está preocupado com o que os textos sagrados dizem sobre o tema?”

Mês do orgulho LGBTQIA+. Coordenei o lançamento de uma revista Parêntese, do Grupo Matinal, da capital gaúcha, voltada a esse tema. Lancei o livro “O gaúcho era gay? Mas bah! 1737-1939”, pela editora Estúdio-MAR. Escrevi o texto “Continuada Livre”, abordando o histórico de ativismo, militância e paradas no Vale do Taquari, publicado no jornal A Hora. Participei como ministrante no evento “Conceitos e abordagens LGBTQI+”, na Univates. Estive na primeira Mateada pela Diversidade, em Venâncio Aires. Fui o convidado especial em um encontro virtual promovido pelo Clube dos Editores do RS, falando em bibliodiversidade, a partir dos meus livros, especialmente os publicados pela editora Libretos, de Porto Alegre: “O crush de Álvares de Azevedo” e “Babá: esse depravado negro que amou”.

Finalizo minhas manifestações com esse texto para o Nova Geração, pensando que somos, muitos de nós, pouquíssimo valorizados pelo volume e pela quantidade de trabalho. Além do relacionado acima, a maior parte não remunerado, eu e as demais pessoas engajadas temos que trabalhar em outras áreas para sobreviver – pagamos contas.

Aproveito este espaço para tocar em um tema do qual todos desviam: o papel de algumas igrejas na demonização e marginalização dos dissidentes sexuais. Nossa região vive em alvoroço devido às estátuas que estão planejadas e que já se fazem vislumbrar em alguns horizontes: o Cristo em Encantado; o rosário gigante em Muçum; a Santa Clara no município homônimo; o monumento à Bíblia em Estrela; entre outras. Tanta é a euforia, que há sugestões de que o roteiro turístico seja denominado “Vale Sagrado”.

Vejamos o que diz a Bíblia: “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto [….]”, em Êxodo, 20. “Não façam ídolos, nem imagens, nem colunas para vocês, não coloquem nenhuma pedra esculpida em sua terra para curvar-se diante dela”, em Levítico, 26. “Assim, visto que somos descendência de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante a uma escultura de ouro, prata ou pedra, feita pela arte e imaginação do homem”, em Atos dos Apóstolos, 17. “Maldito quem esculpir uma imagem ou fizer um ídolo fundido, obra de artesãos, detestável ao Senhor […]”, em Deuteronômio, 27.

Há outras passagens nesse sentido. Algum religioso, alguém da imprensa ou de outro setor está preocupado com o que os textos sagrados dizem sobre o tema? Falam em turismo e pensam em dinheiro – só. Então qual a razão de encherem os pacovás dos LGBTQIA+, argumentando que as relações entre pessoas do mesmo sexo são condenadas pela Bíblia?

Tem vários nomes essa mania de ficarem perseguindo os gays, especialmente em épocas de campanha política. Hipocrisia, má-fé e politicagem são alguns. Não faço oposição aos monumentos religiosos. Especialmente porque são gritantes exemplos de que, se forem acreditar na redação bíblica, a cada um resta, antes, cuidar da própria vida, enxergar os próprios pecados – muito antes do que complicar a vida alheia com mexericos sustentados, diga-se, em ídolos de barro.

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