Jornal Nova Geração

NA VIRADA DO ANO

Postos elevam preço da gasolina em quase R$ 1

Litro vendido a R$ 4,79 na semana passada agora é encontrado por R$ 5,71 no mesmo estabelecimento em Arroio do Meio. Setor atribui aumento à demora na definição do governo em isentar tributos federais

Valor do litro da gasolina varia até R$ 0,80 em postos de Lajeado. Setor atribui elevação às incertezas sobre isenção de impostos federais. Crédito: Felipe Neitzke

O litro da gasolina volta a custar mais de R$ 5 nos postos da região. Em alguns casos, o reajuste ao consumidor chega a quase R$ 1 em menos de uma semana. A elevação de preços consta na plataforma Menor Preço, da Receita Estadual/RS, que também indica a disparidade entre estabelecimentos.

A ferramenta de pesquisa indica diferença de até R$ 1,11 entre postos da região. Enquanto estabelecimento em Encantado vende o litro da gasolina por R$ 4,68, em Lajeado custa até R$ 5,79. Na maior cidade do Vale do Taquari a disparidade com empresas locais chega a R$ 0,80. O menor valor é de R$ 4,99.

A mudança de preço nas bombas ocorreu antes mesmo da definição sobre a desoneração de Pis/Cofins e Cide dos combustíveis. A medida provisória publicada no ano passado perdeu validade em 31 de dezembro e dependia de renovação. O anúncio por manter zerado os impostos foi feito no domingo e formalizado ontem.

Mesmo assim, distribuidoras teriam se antecipado com reajustes. Pela projeção da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) o impacto caso houvesse o retorno do recolhimento de tributos federais seria de R$ 0,68 na gasolina. Para diesel, a alta prevista era de R$ 0,33 e, no etanol, R$ 0,24.

Além do cenário político, proprietários de postos também atribuem o reajuste à alta do álcool anidro e as condições de mercado. De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Estado do RS (Sulpetro), João Carlos Dal’Aqua, o preço ao consumidor é reflexo das incertezas sobre a tributação.

Na avaliação dele, ainda que o governo tenha mantido a isenção de alíquota de impostos federais, houve uma lacuna desde a vigência de uma medida provisória e outra. Ele acredita em redução de preços nos próximos dias, no entanto alerta para volume de combustível comprado com incidência de Pis/Cofins e Cide durante a virada de ano.

Estoques nos postos

Para dar conta do aumento da demanda no fim de ano, postos reforçaram estoques e em alguns casos com novos preços aplicados pelas distribuidoras. Agora, com a permanência da isenção de impostos federais sobre combustíveis, a expectativa é pela redução nas bombas para patamares abaixo de R$ 5, o que pode demorar alguns dias, a depender do volume comprado com maior preço.

De acordo com o sócio de posto de combustíveis em Lajeado, Elton Faleiro, a lacuna criada entre o fim da medida do governo anterior e a validação da nova regra provocou a elevação no valor final. “Não é o caso de todos os postos, alguns não precisaram repor estoques na virada de ano e por isso permanecem com valores mais baixos.”

“É preciso pesquisar para não perder dinheiro”

O motorista de aplicativo Leandro Andrade da Silva roda em média 300 quilômetros por dia. Ele mora em Lajeado e já percebeu a rápida elevação de preços nos postos. “A diferença chega a R$ 1. É preciso pesquisar para não perder dinheiro.”

Silva abastece em média três vezes ao dia. “Sou motorista há quatro anos e está cada vez mais difícil. Não é somente o valor da gasolina, o custo de vida está muito maior e com a renda praticamente se cobre apenas as despesas básicas.”

Perda de competitividade no GNV

A Sulgás obteve no fim de dezembro a autorização para reajustar em 33% a margem no gás natural. Com a decisão, eleva ainda mais o preço para quem abastece com GNV. Os recorrentes aumentos durante o ano fizeram com que o metro cúbico superasse o valor do litro da gasolina.

Diante desse cenário, a instalação de kits em veículos caiu pela metade, segundo o Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios (Sindirepa). A perda de competitividade é atribuída à falta de concorrência no setor de gás natural no estado.

De acordo com o presidente da Sindirepa, Celso Mattos, os aumentos levaram à decisão de entrar na Justiça contra a companhia. “No RS existe o monopólio por parte da empresa do grupo Comgás. Ela tenta entrar em todos os estados e aumenta a margem em 50%.”

Mattos observa que enquanto o m³ do GNV é vendido a R$ 5,87 em postos do Vale do Taquari, em outras regiões do país custa pouco mais de R$ 4. “Não é possível em um país a exemplo do Brasil, com abundância de gás natural, haver a aplicação de abusivos aumentos.”

ENTREVISTA – João Carlos Dal’Aqua • presidente do Sulpetro

“Acredito que a gasolina volte a custar menos de R$ 5”

Presidente do sindicato dos postos de combustíveis no RS destaca lacuna na desoneração de tributos com a troca de governo e ajustes de valores por parte de distribuidoras. A tendência, conforme Dal’Aqua, é pela redução no preço dos combustíveis com a permanência da isenção de impostos por mais 60 dias.

Qual é a motivação do aumento no preço dos combustíveis?

João Carlos Dal’Aqua – A indecisão do novo governo sobre tributos federais nos combustíveis fez distribuidoras se anteciparem com reajustes. Mesmo com o anúncio da medida provisória que garante por mais 60 dias a isenção de Pis/Cofins e Cide, a publicação ocorreu somente ontem e deixou uma lacuna. Enquanto isso, permaneceu a tributação e há o impacto direto a quem revende. Na gasolina, o imposto federal representa em média R$ 0,68. Para o diesel, chega a R$ 0,33 e, no etanol, R$ 0,24. Além disso, o álcool anidro, componente da gasolina, sofreu frequentes reajustes.

A partir da medida provisória, a tendência é de redução nas bombas?

Dal’Aqua – Acredito que a gasolina volte a custar menos de R$ 5. Esperamos que a publicação da medida provisória surta efeito nas distribuidoras o quanto antes. Cabe destacar também, que o dono do posto compra a gasolina à vista e caso tenha renovado o estoque nos últimos dias sofreu a pressão de novos preços.

Em postos da região a diferença de preço chega a mais de R$ 1. Por que essa disparidade?

Dal’Aqua – Nesta época do ano há o aumento do consumo e algumas distribuidoras restringiram a entrega por conta das incertezas da tributação. Quem precisou comprar o combustível, em especial postos de bandeira branca, receberam a gasolina R$ 0,75 mais cara. Nessa situação, o repasse ao consumidor final não inclui margem, somente o custo mesmo. Em outros casos, postos com preços promocionais tiverem de equilibrar preços para garantir as operações.

Qual é o cenário sobre o ICMS no RS. O governo mantém a alíquota de 17%?

Dal’Aqua – Sim. Permanece com a mesma alíquota. A diferença está na revisão do preço de pauta. Acordo ainda no ano passado fez com que o governo gaúcho congelasse o valor de tabela. A partir de abril retorna ao formato antigo que considera 15 dias anteriores. Além disso, há um debate para criar uma alíquota nacional sobre o preço da gasolina.

Quais as projeções para o futuro do preço dos combustíveis?

Dal’Aqua – Muitas dúvidas nos cercam. Tem o cenário político e nele podemos incluir a nova gestão da Petrobras. Não sabemos se o novo presidente da companhia vai adotar uma política de preços do mercado internacional ou vai por mecanismos para amortecer os preços. Já em relação ao mercado global, China arrefeceu o consumo de derivados do petróleo, por outro lado o inverno no hemisfério norte faz o consumo aumentar para manter sistemas de aquecimento.

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