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NOSSOS FILHOS

Preconceito trava avanços na conscientização sobre autismo

Neurologista pediátrica avalia que a sociedade ainda não está totalmente preparada para lidar com pessoas que tenham o transtorno. Diagnósticos tardios podem dificultar desenvolvimento

Edição de quinta-feira trouxe à tona debates sobre o Abril Azul, mês de conscientização sobre o transtorno. Crédito: Luisa Huber

Criado para promover a conscientização sobre o autismo, o Abril Azul reforça o debate sobre a importância do diagnóstico do transtorno. Para muitas famílias, o assunto ainda é tabu. Outras “fecham os olhos” e, em muitos casos, são professores ou monitores de creches que identificam os primeiros sinais nas crianças.

Neurologista pediátrica, Ana Maria Dresch Gois foi a convidada da edição da última quinta-feira, 6, de “Nossos Filhos”, programa multiplataforma do Grupo A Hora. Na ocasião, ela elencou pontos que considera importantes na discussão sobre o transtorno do espectro autista (TEA) e em quais situações os pais devem ficar mais alertas sobre o diagnóstico dos filhos.

Conforme Ana Maria, em muitos casos, as famílias são informadas na escola de que é preciso investigar a condição da criança. “A maioria chega até nós assim. Quando a criança é colocada entre outras, salta os olhos a diferença de comportamento, de adaptação às novas situações sociais. Então os professores vão avisar”, salienta.

A profissional ressalta que é importante reforçar a conscientização nesta faixa etária porque, em muitos casos, a criança não frequenta creche ou escola nos primeiros anos de vida. “Se elas ficam até os dois, três anos em casa, não existe demanda social e os pais muitas vezes não percebem os sinais. E as pessoas ao redor falam que “não é nada”, ou que “é o tempo dele”, pontua.

Embora muitos a consideram como doença, o TEA é uma condição relacionada ao desenvolvimento do cérebro. “A pessoa com autismo não está doente. É a maneira como ela vê as coisas. E não é possível tratar o autismo, e sim aquilo que possa vir de inabilidade e os comportamentos que podem funcionar de barreira ao aprendizado”.

Janela de oportunidades

Segundo Ana Maria, existe um período em que o paciente consegue adquirir habilidades dentro dos marcos do neurodesenvolvimento. Se esse tempo não for bem observado, pode ser um sinal de que a criança nasceu com o transtorno do espectro autista.

“Existe uma janela de oportunidades. Tem bebês que caminham com 10, 11 meses. O ideal é até os 15 meses para andar sem apoio. Mas um com 18 meses que não anda precisa ser avaliado. Pode não existir nenhuma doença envolvida nisso, porém é importante que tenha essa avaliação”, salienta.
Outra situação que pode resultar num diagnóstico de autismo é com relação à fala. Se a criança, ainda que se comunique bem por meio de gestos, olhares e expressões, não fala, precisa ser investigado, ainda que ela não tenha, de fato, o transtorno.

“Não existe uma espera que seja saudável. Isso vira uma bola de neve. Com 18 meses ela precisa falar. Com 24, precisa formar pequenas frases. Nesses seis meses é para ocorrer uma explosão no vocabulário. Independente de ser autismo ou não, o atraso na fala precisa ser tratado”.

Causas

Evidências científicas apontam que não há uma causa única, mas sim a interação de fatores genéticos e ambientais. Ana Maria ressalta que “ninguém consegue tornar uma pessoa sem pré disposição em autista” e alerta para situações que podem desencadear no desenvolvimento do transtorno.

“Tem a prematuridade, a questão da idade avançada, tanto materna quanto paterna, o uso de alguns medicamentos durante a gestação, e também o álcool e as drogas. Todo o resto é especulação. Já se falaram em muitas coisas, levantaram diversas hipóteses”, recorda.

Preconceito

Embora existam avanços na conscientização sobre o autismo, Ana Maria entende que a sociedade ainda “está engatinhando” no assunto e há muito preconceito. “Tem muita coisa que a gente ainda não sabe. Mas não acho que estamos num mundo preparado para recebê-los, para dar o suporte que precisam”.

Entre os fatores positivos, ela destaca a maior procura de profissionais por capacitação, bem como de escolas para saberem lidar melhor com as crianças com TEA. “Mas tenho impressão que os casos estão aumentando de fato, e que no Brasil temos um subdiagnóstico”.

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