Estrela, Bom Retiro do Sul, Colinas, Fazenda Vilanova e Imigrante somam, juntos, R$ 74,7 milhões em prejuízos com a estiagem até o momento. Desde novembro, produtores observam as perdas causadas pelo intenso calor e a falta de chuva. Racionalização de água pode ser uma das alternativas para amenizar o problema.
Estrela decretou Situação de Emergência ainda em dezembro, no dia 28. Na segunda-feira, 3, e na terça-feira, 4, foi a vez de Colinas e Imigrante, respectivamente. Bom Retiro do Sul e Fazenda Vilanova aguardam laudo técnico para validar e decretar emergência. Milho em grão e para silagem, soja e a produção leiteira são as culturas mais afetadas pela estiagem na região.
Perda de 60%
Estrela possui 290 produtores de leite e uma produção anual próxima aos 42 milhões de litros. Com a estiagem, a queda foi de 15% na atividade. Os maiores danos estão no milho. Enquanto o grão teve prejuízo de 60%, a silagem teve de 55%. Já a soja foi impactada em 35%. O valor estimado de perda é de R$ 31,6 milhões e corresponde ao período de 1 de novembro de 2021 até o dia 4 de janeiro.
Conforme o extensionista rural da Emater de Estrela, Tiago Conrad, a tendência é piorar, caso as chuvas não se regularizem. “Muita gente precisou esperar para plantar, então está com a semente em casa. Se usar o grão para a próxima safra, por exemplo, possivelmente terá problema de germinação. A estiagem traz prejuízos imensuráveis e que duram por meses”, afirma.
Conrad ressalta que a Emater faz um trabalho de orientação com a comunidade para evitar o desperdício de água. “Por enquanto não temos problemas de abastecimento, mas se continuar assim, poderemos ter. Por isso, é importante utilizar a água da forma correta e assim evitar o agravamento da situação ou desabastecimento”, frisa.
Racionalização de água
Na sexta-feira, 31 de dezembro, o Governo de Estrela decretou a racionalização para o uso de água no município, pelo prazo inicial de 30 dias. O objetivo é evitar possíveis problemas no abastecimento.
O decreto permite apenas o uso de água para fins domésticos, consumo com higiene e para dar de beber aos animais. Até o fim de janeiro, fica proibida a irrigação de gramados e plantações, troca total ou parcial de águas em piscinas de clubes, entidades e residências, além da lavagem de calçadas de prédios comerciais e industriais, condomínios ou residências.
De acordo com o vice-prefeito e secretário em exercício de Desenvolvimento, Inovação e Sustentabilidade (Sedis), João Schäfer, a fiscalização ocorre por meio da Defesa Civil que, após denúncia, vai até o local para averiguar e orientar o munícipe a economizar água. “Queremos educar as pessoas para fazer um uso racional. Até o momento, não é previsto multa para quem descumprir o decreto, por isso contamos com a colaboração de todos”, salienta.
Quem observar desperdício de água pode contatar o número (51) 99876-1430 e, desta forma, auxiliar na fiscalização do decreto.
Medidas para auxiliar
Em colinas, a Administração Municipal tenta amenizar os danos auxiliando os produtores com fornecimento de água. Além disso, há busca de recursos para perfuração de poços nas localidades mais afetadas.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil no município, Edelbert Jasper, medidas paliativas como interligação de poços entre a cidade e o interior estão sendo feitas. Como forma de auxiliar os munícipes neste momento, o Executivo reduziu o Imposto de Renda sobre Propriedade Rural (IPR). O decreto tem validade de 180 dias.
A Administração Municipal e Câmara de Vereadores de Bom Retiro do Sul destinaram R$ 40 mil reais para que os produtores melhorem os reservatórios de água dos animais. O prefeito Edmilson Busatto reforça a importância do decreto por saber que a situação não se resolverá com chuvas passageiras. Ele afirma que o município possui recursos em caso de piora na situação.
Na segunda-feira, 10, a Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) organiza uma reunião entre os prefeitos da região, Emater e o Governo do Estado. A intenção é buscar medidas efetivas para auxiliar os municípios mais afetados pela estiagem.
Produção de feno também sofre
O produtor rural Samuel Wermann, de Linha Delfina, em Estrela, afirma que a propriedade da família teve perda de 50% a 60%. São 16 hectares de milho em grão, 23 de silagem e 130 de soja. Segundo ele, o prejuízo maior foi com a silagem. “Isso porque foi plantado mais tarde, então pegou a seca desde o início. Tivemos perda considerável do feno também. Geralmente a cada 30 ou 35 dias fazemos corte de grama, mas já fazem 60 dias que não conseguimos realizar”, observa.
Prejuízo estimado com a estiagem:
Município | Valor |
Estrela | R$ 31,6 milhões |
Bom Retiro do Sul | R$ 15 milhões |
Colinas | R$ 10,5 milhões |
Imigrante | R$ 8,6 milhões |
Fazenda Vilanova | R$ 9 milhões |
Temporal provoca ainda mais prejuízos
A combinação de calor e instabilidade provocou temporais pelo Estado, no domingo, dia 2. Por volta das 13h, o fenômeno derrubou árvores e chegou a interromper o fluxo na ERS-128, em Bom Retiro do Sul. A rodovia é a principal ligação do município com a BR-386. O Corpo de Bombeiros de Estrela trabalhou na retirada dos entulhos. O trânsito foi desviado por uma estrada lateral. Nas proximidades, o prédio e a cerca da Sociedade Esportiva Saca Rolha foram parcialmente destruídos pelo vendaval no Bairro São João. Com o impacto, o Cemitério localizado atrás da construção também sofreu danos. Em torno de 10 túmulos teriam sido atingidos. Há relatos de destelhamentos de casas.
Em linha São Luiz, o agricultor Rudinei Klafke, 41 anos, calcula pelo menos R$ 250 mil de prejuízo. “O galpão de 825 metros quadrados onde 49 vacas ficavam confinadas, foi totalmente destruído. Dois animais morreram, e agora, ao sol, mais três estão machucados”, lamenta o agricultor.
Além do galpão, houve perfuração na lona que armazena a silagem e perda de diversas telhas de zinco, que ainda estão no meio do pasto. “Inicialmente estamos abrindo caminho para que os caminhões passem, e então vamos limpar os locais atingidos e reconstruir tudo. Aqui vai uma semana de trabalho”, relata.