A região ainda nem superou o trauma dos dias 4 e 5 de setembro e o risco de um novo episódio de enchente mobiliza setores públicos de proteção. Prognósticos da Sala de Situação, ligada a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), e o instituto de meteorologia Metsul, emitiram alertas para chuva forte e temporais dessa sexta-feira até domingo.
Em uma das análises, o meteorologista da Sala de Situação afirma que o acumulado pode superar os 200 milímetros no norte gaúcho. Em menos intensidade sobre localidades dentro da bacia hidrográfica, em cidades por onde passam os rios Carreiro, Antas e Guaporé.
Ainda assim, há condições para tempo severo, com eventual queda de granizo e fortes rajadas de vento. No fim da tarde dessa sexta-feira, o setor de hidrologia da Sala de Situação comunicou as defesas civis que o montante de chuva terá algum impacto sobre o nível da água do Rio Taquari, com pouca chance de entrar na cota de inundação. No Porto de Estrela e Lajeado, o nível é de 19 metros para iniciar o plano de retirada das primeiras famílias de áreas de risco.
Monitoramento e preparo
O comando da Defesa Civil no RS emitiu um alerta aos municípios da região. De acordo com o coordenador da DC na região dos Vales, o coronel Éverton de Souza Dias, os indicativos meteorológicos apontam chuvas mais severas no sul de Santa Catarina, com possibilidade das áreas de instabilidade atingirem a bacia hidrográfica do Taquari/Antas.
“Nossa orientação é monitorar a quantidade de chuva, elevação do nível da água e revisar como estão os planos de contingência. As decisões para retirada de famílias, para ações efetivas, cabe aos municípios. Nós estamos aqui para dar suporte caso extrapole a capacidade das cidades atuarem. Foi isso que aconteceu no início de setembro.”
Na análise de Dias, a catástrofe do início de setembro serviu de aprendizado. Tanto que na próxima semana estão agendadas reuniões com as associações dos municípios do Vale do Taquari e do Rio Pardo para formular o plano de trabalho integrado.
O apagão de informações e dados técnicos durante o episódio passado comprova a necessidade de melhorias, destaca o coronel. “Precisamos ver as tecnologias disponíveis para o monitoramento. Sabemos que isso vem sendo feito, mas é preciso avançar.”
Equipamentos em funcionamento
Conforme o Gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Franco Buffon, os equipamentos na bacia do Taquari/Antas voltaram a funcionar. São 14 réguas digitais que acompanham o comportamento de arroios e rios.
As informações são atualizadas a cada hora e estão disponíveis na internet. De acordo com ele, o serviço geológico cumpre uma tarefa diferente da meteorologia. “Pelo nosso protocolo, atuamos quando o fenômeno está em curso. Fazemos os alertas aos municípios a partir da chuva naquele momento, em que começa a interferir sobre o nível dos rios.”
O trabalho consiste em boletins de risco a partir de dados das áreas de cabeceiras a fim de alertar as autoridades sobre o potencial de inundação. “Por enquanto, não podemos afirmar se teremos ou não mais uma cheia na bacia do Taquari”, diz Buffon.
Apagão de dados
A magnitude da cheia passada danificou aparelhos digitais de monitoramento. Em Muçum, por volta das 19h da segunda-feira, 4 de setembro, os sistemas remotos de análise sobre o nível do rio entraram em colapso.
Essa situação fez com que o próprio governador Eduardo Leite admitisse a necessidade de uma revisão profunda sobre os equipamentos, inclusive abriu possibilidade para investimentos em métodos de previsão, monitoramento e alertas.
Conforme estimativa do Piratini, são cerca de 170 aparelhos. Destes, 40% estariam em funcionamento. Para agilizar os encaminhamentos sobre a requalificação dos sistemas, o governo estadual criou um grupo de trabalho. Até o momento foi identificada a necessidade de investir em radares, estudos técnicos e sistemas à Defesa Civil ser mais efetiva e eficiente.
Entre os projetos em curso está um convênio para uma comunicação mais eficiente direto às comunidades dos municípios. O modelo parte da parceria com a Agência Nacional de Telefonia (Anatel) para o disparo de mensagens de alertas para os celulares em áreas de risco sem necessidade de inscrição prévia.