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Qualidade de vida: expectativa às vésperas do centenário

Em meio aos preparativos para comemorar a chegada da matriarca aos 100 anos, família convive com os desafios de uma nova fase. Cuidados com a saúde física e mental são considerados fundamentais para a longevidade

Lúcia mora desde os 92 anos com a filha mais nova, Mariliza, para se manter próxima da família e da rede de apoio. Crédito: Jhon Willian Tedeschi

Moradora do bairro Imigrantes, em Estrela, Lucia Elisabetha Wendt completa 100 anos na próxima segunda-feira, 11. Ela mora com a filha, Mariliza Loiva Redel, 60, há oito anos, e a família vive a expectativa pela entrada da matriarca na faixa centenária, inclusive com direito a festa especial no domingo, 10, para mais de 100 pessoas. “Vamos fazer uma festa grande, com parentes, amigos, vizinhos, todo mundo, para comemorar com muita alegria”, diz Mariliza.

Na tranquila rotina de Lúcia, muitas horas de sono, chimarrão e momentos de espiritualidade, como assistir à missa na televisão pela manhã. De acordo com a filha, o sono chega a 12 horas por noite. A idosa trabalhou como costureira e só parou com o tricô e o crochê por determinação médica, devido a problemas na coluna. A participação em grupos de idosos, em festas de Carnaval e São João, foi rotina até poucos anos atrás.

Por outro lado, a chegada da mãe aos 100 anos assusta Mariliza, que diz ainda não saber como lidar com a nova fase. Devido à osteoporose, Lúcia toma medicações e suplementos para reforçar a estrutura óssea. Há cerca de um mês, um acidente assustou a família. “Ela caiu, mas não quebrou nada, só bateu a cabeça”, lembra a filha. Em outras duas oportunidades, a quase centenária fraturou o fêmur, e após o segundo episódio faz fisioterapia todas as semanas.

O acompanhamento médico é uma constante. Além da fisioterapia, uma nutricionista cuida da alimentação da idosa, o que garante uma melhor qualidade de vida. E a rede de apoio se estende às outras três filhas e à vizinhança. Um outro hábito de Lúcia chama a atenção. “Outra coisa tem um segredo muito grande, todo mundo diz que ela tem uma vida tão longa por causa da cerveja, degustada em ocasiões especiais”, conta Mariliza.

Dados da longevidade

A microrregião formada por Bom Retiro do Sul, Colinas, Estrela, Fazenda Vilanova, Imigrante e Teutônia, de acordo com o Censo Demográfico 2022, possuía nove pessoas com 100 anos ou mais – todas mulheres. Para comparação, a pesquisa feita em 2010 apontava apenas quatro pessoas nesta faixa etária, três mulheres e um homem.

Em nível nacional, os centenários representavam 0,01% da população: 37.814 pessoas, 27.244 mulheres e 10.570 homens. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de outubro, mas estão sujeitos a alterações, por eventuais aniversários e óbitos.

Pessoas na faixa etária entre 95 e 99 anos, como é o caso de Lúcia, são 64 nos seis municípios, 49 delas mulheres (76,6%). Embora a pandemia tenha reduzido a expectativa de vida no Brasil, o IBGE aponta que no ano passado houve mais uma recuperação nos dados, que passaram para 75,5 anos. Os números deste ano serão publicados apenas em 2024.

Entrevista – Márcia Covi Nunes Bunecker, coordenadora da ESF Imigrantes, de Estrela, integrante da Rede Bem Cuidar

Jornal Nova Geração: Quais os fatores que proporcionam uma chegada aos 100 anos de idade com melhor qualidade de vida?
Márcia Covi: Atividade física e alimentação saudável desde cedo, e uma rede de apoio social e/ou familiar. Nunca é tarde para começar a se cuidar, mas quanto antes, maior será a chance de envelhecer com saúde.

Jornal NG: Como você avalia os desafios que família e rede de apoio tem, para a convivência com uma pessoa centenária?
Márcia: Hoje em dia as pessoas trabalham muito. Quase não têm tempo para cuidar da pessoa idosa. Um desafio é ter um espaço para ao idoso passar o dia com outras pessoas idosas, com atividades e alimentação garantida. Outra forma seria contratar um cuidador, mas nem todos conseguem devido ao custo. Muitos familiares não compreendem o que se passa no envelhecimento, como a perda da memória, demência, dificuldade de locomoção, etc.

Jornal NG: Você acredita que haverá mais facilidade para a população alcançar os 100 anos?
Márcia: Eu acredito que as pessoas que praticam atividade física, cuidam da alimentação, socializam e têm contato com a família chegarão aos 100 anos. Contudo, tenho que ser realista. Muitas pessoas esperam chegar aos 100 sem fazer a sua parte. Acreditam que tomar 15 remédios por dia vai solucionar a falta de atividade física, psicológica e nutricional.

Números
  • 3 mulheres em Bom Retiro do Sul
  • 3 mulheres em Estrela
  • 2 mulheres em Teutônia
  • 1 mulher em Imigrante
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