Jornal Nova Geração

reflexo da pandemia

Transtornos mentais crescem com pandemia e sobrecarregam serviços

Relatório da OMS indica aumento de 25% dos casos em nível global. Na região, órgãos públicos relatam dificuldades em atender maior demanda

O número de casos de transtornos mentais cresceu 25% em todo o mundo. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e relativos ao primeiro ano da pandemia. Em nível regional, os órgãos públicos responsáveis percebem aumento significativo dos atendimentos e enfrentam dificuldades para absorver toda a demanda.

A médica psiquiatra Clara Sfoggia atua no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Estrela, em Fazenda Vilanova e em consultório particular, em Teutônia. “A demanda está tão grande, que os serviços estão saturados. Precisamos de mais profissionais”, relata, sobre o caso do Caps de Estrela.

Segundo a profissional, muitos dos pacientes não precisam de intervenção com medicamento. “Mas para chegar a esse diagnóstico, é preciso que o paciente receba atenção. O fato é que, se esse paciente demorar para ser atendido, aí sim os sintomas podem se tornar crônicos e ela poderá desenvolver transtornos”, aponta a psiquiatra.
Conforme o estudo da OMS, a crise da covid-19 comprometeu o acesso aos serviços de saúde mental em muitos casos. O cenário preocupa diante da possibilidade de aumento de tendência de comportamento suicida.

A OMS identificou que, em nível global, houve um aumento de 27,6% nos casos de transtorno depressivo somente em 2020, enquanto também foi constatado que houve 25,6% mais casos de transtornos de ansiedade.
Segundo Clara, há uma apreensão específica com o aumento de casos entre pessoas jovens. “A faixa etária dos adolescentes é a que mais tem procurado as equipes. Eles apresentam automutilação, tentativa de suicídio, ideação, então os serviços estão bastante saturados”, comenta.

Roteiros semelhantes

Em 2016, Rosane Werle Hoff, de 63 anos, se separou. O divórcio abalou a família. Alguns meses depois, no local de trabalho, Rosane teve uma crise de choro, foi para casa e relata que só parou de chorar dois dias depois, quando precisou ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros.

Os fatos mudam, mas o roteiro se assemelha à história de muitas pessoas que buscam ajuda no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Uma série de acontecimentos impactantes, agravados por relações destrutivas, acabaram levando a aposentada à depressão.

“Eu era uma pessoa alegre e conversava com todo mundo, mas no meu trabalho, não podia nem conversar, nem sorrir. Isso, somado ao fato de eu estar fragilizada, acabou que eu tive a crise de choro e fui resgatada pelos bombeiros lá de casa.”

Com a pandemia, Rosane perdeu muitos amigos e familiares. A doença que estava controlada, voltou a preocupar. Desde 2017, Rosane frequenta o Caps semanalmente. “Minha vinda ao Caps é muito importante para meu bem-estar. Faltei a uma consulta em uma ocasião apenas, mas liguei para o pessoal e logo eles remarcaram”, lembra.

Assistência como ponto de apoio às famílias
Adeli Inácio Scheeren, de 71 anos, tem o filho sendo atendido pelo Caps. Ele teve o diagnóstico de esquizofrenia, aos 16 anos. “Buscamos o atendimento desde 2004, quando a doença se agravou. Os profissionais ‘acertaram’ a medicação e meu filho participa da terapia ocupacional, de duas a três vezes por semana”, explica.

A pandemia prejudicou os atendimentos, obrigando o filho de Scheeren a permanecer em casa. Segundo o aposentado, ele demonstrava ansiedade e até agressividade. “Foi um período difícil, pois o Caps é um importante ponto de apoio para nós”, lembra.

Scheeren também é membro do Conselho Municipal de Saúde (CMS) e considera que o Caps merece mais atenção da administração municipal. “Os pacientes criam vínculos. Acabam se acostumando com os profissionais que atendem lá. A saúde, no município de Estrela, em geral, vai bem, mas o Caps precisa muito de atenção”.

Confira a reportagem completa na edição impressa do Jornal Nova Geração de sexta-feira, 11.

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