Jornal Nova Geração

VALE DO TAQUARI

Trauma de 2020 qualifica resposta e redução de danos

Enchente desta semana fez o nível do rio chegar a 20,57m, no Porto de Estrela. Defesas civis da região e moradores redobraram os cuidados para evitar calamidade semelhante à cheia registrada em 2020

“Antes prevenir do que remediar, pois temi perder tudo igual em 2020”. As palavras de Eliana Dutra, 54, enquanto finalizava o processo de remanejamento dos móveis para a residência, evidenciam as sequelas que a enchente de dois anos atrás deixou na comunidade estrelense. Moradora do Bairro Oriental, ela temeu que a casa fosse novamente tomada pelas águas na cheia registrada nesta semana, quando o nível do Rio Taquari atingiu 20,57m, no Porto de Estrela, às 12h de quarta-feira, 4.

Eliane mora em um dos seis quitinetes do térreo de um prédio de dois pavimentos, na Rua Germano Hasslocher. Ela e as cinco famílias vizinhas optaram por se refugiar e subir os móveis para o segundo andar durante a noite de terça-feira, 3. “Eu fiquei monitorando o nível do rio, mantive contato frequente com a Defesa Civil. Em consenso, decidimos subir para não esperar demais e sermos surpreendidos como da última vez”, explica, ao relatar que em 2020, as águas inundaram cerca de 10 centímetros o segundo andar. Na ocasião, o nível do rio registrou 28,49m.

Residente no local há mais de cinco décadas, Eliane relata que as águas começam a atingir a residência a partir da marca dos 24m. Mesmo assim, ela assegura que mudar os móveis de pavimento foi a decisão correta. “Não nos arrependemos, fizemos o correto. Depois que acontece o pior, não adianta lamentar. Na verdade, mesmo que não seja fácil viver anos nesta situação, temos que agradecer por, desta vez, ter sido só o medo”, conta.

A própria moradora também sentiu os servidores da Defesa Civil mais prevenidos. “Estavam muito atentos, preocupados e informados. Pareceram estar mais preparados, passando segurança no que estavam nos dizendo”, conta Eliana. Mas, a sua precaução e dos vizinhos não foi exceção em Estrela.

De acordo com a Defesa Civil, as casas não foram inundadas, mesmo assim, para além das que mudaram de pavimento, outras 19 famílias optaram pelo desalojamento, e se refugiaram em residências de familiares.

No bairro Boa União, Clênio Souza auxiliou na retirada dos móveis da residência do pai, localizada na rua João Lino Braun. “Vários anos que passamos por isso, fizemos a retirada dos móveis e dos animais. Estamos nos adiantando para não corrermos riscos”, comentou na manhã de terça-feira, quando o nível do Rio Taquari atingiu a Cota de Inundação, ao ultrapassar os 19m.

Moradora mostra onde chegou o nível do Rio Taquari no segundo pavimento da casa, na enchente de 2020 (Foto: Larissa Santos)

Equipes mobilizadas

O coordenador da Defesa Civil (DC) de Estrela, Lindomar de Freitas, conta que na segunda-feira, 2, a instituição passou a monitorar o rio, com as previsões pluviométricas sobre as cabeceiras na região alta. As equipes da infraestrutura, meio ambiente e caminhões da agricultura começaram a ser mobilizadas, caso fosse necessário. No município, 10 ruas foram bloqueadas, sendo liberadas para trânsito durante a quinta-feira e sexta-feira, 5 e 6.

Segundo Freitas, da enchente registrada em 2020 para a cheia deste ano, a equipe está mais preparada, com cursos e pesquisas. “Percebemos pela movimentação que as pessoas estão mais cientes do que pode acontecer. Nos recebem melhor e prestam mais atenção no que falamos”, aponta.

Melhorias

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM), diante da possibilidade de uma nova enchente, realiza uma mobilização das equipes de campo para a manutenção de equipamentos que podem ser utilizados, enquanto engenheiros monitoram, em regime de plantão, os dados de níveis e chuvas que são registrados.

Conforme o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Porto Alegre do CPRM, Franco Turco Buffon, a estação de Estrela passou por modernização em 2021, ao migrar da tecnologia baseada em telefonia móvel para via satélite. “Isso reduziu a quantidade de interrupções e atrasos na transmissão de dados. Assim, as defesas civis puderam ter acesso ao dado com maior regularidade”, afirma.

No caso do equipamento apresentar defeito, a instituição também instalou réguas na margem do rio em Lajeado. “Com isso, a melhoria se reflete no aumento da segurança dos agentes envolvidos com o monitoramento e reflete também em mais segurança para a sociedade”, aponta Buffon.

“A cada evento, novos desafios são vencidos”

Segundo o coordenador da DC de Colinas, Edelbert Jasper, a cheia do Rio Taquari não trouxe grandes transtornos ao município. Houve apenas a interrupção do acesso principal, na ERS-129, e estrago nas estradas do interior. Nenhuma família precisou ser desalojada.

“A DC e os bombeiros do Imicol sempre ficam atentos aos alertas dos institutos de meteorologia quando há situações mais severas do clima. Acompanhamos a intensidade de precipitação na bacia e a evolução da onda de cheia, fazendo um prognóstico em relação ao nível que o rio poderá atingir”, explica.

De acordo com Jasper, de 2020 para 2022, melhorou o sistema de alerta de informações das situações do rio e das chuvas que ocorreram na bacia.  “Ainda temos que melhorar, mas estamos no caminho. A cada evento, novos desafios são vencidos e nos dão mais experiência, com uma maior interação das defesas civis da região”, observa.

Conscientização

O trabalho de monitoramento da DC de Bom Retiro do Sul iniciou ainda no sábado, 30. No município, o trânsito foi interrompido na ERS-129, na rua que dá acesso à Barragem, e na Estrada do Faxinal Silva Jorge.

Conforme o coordenador da DC, Diego Reis, a troca de informações entre as instituições da região foi essencial durante o período, pois auxiliou na prevenção. “Trabalhamos sim com a possibilidade de enchente, tendo em vista os volumes de chuva que eram previstos para a região alta, principalmente na cidade de Vacaria e Bento”, conta.

Em comparação com a enchente de 2020, Reis afirma que a situação melhorou depois de quase dois anos, com mais equipamentos, roupas específicas para o resgate e boia salva vidas. “A maior melhoria que ocorreu foi a conscientização, tendo em vista que não só as coordenadorias de defesa civil agiram de forma preventiva, mas também a população”, salienta.

O rio atingiu 15,41m na Barragem Eclusa, em Bom Retiro do Sul (Foto: Fernando Dias)
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