Jornal Nova Geração

ESTRELA

Travessia única pela BR-386 expõe gargalo logístico

Ligação entre Estrela e Lajeado sobre o Arroio Boa Vista foi danificada pela força da enchente. Situação gera novo debate sobre dependência da logística regional entre os maiores municípios da região apenas pela BR-386

Deslizamento de talude tirou a sustentação de parte da estrutura preparada para ampliação da ponte (Foto: Felipe Neitzke)

Uma semana de trânsito lento, engarrafamentos e mais prejuízos. Junto com isso, a tendência de mais percalços ao longo dos próximos dias. Tudo por conta da necessidade de reavaliação sobre as condições na ponte sobre o Arroio Boa Vista, entre Lajeado e Estrela. Um cenário muito parecido com o acontecimento do dia 13 de março de 2021, quando um caminhão tombou e explodiu sobre a mesma passagem.

Desta vez, a enchente da semana passada comprometeu o talude da travessia de Lajeado sentido Estrela. Foi necessário deslocar engenheiros da CCR ViaSul para avaliar as condições de toda a estrutura. Para tentar reduzir o tempo de espera dos condutores, a concessionária desviou o tráfego.

Segundo a responsável pela rodovia, quando o movimento fica mais intenso, é feito o desvio dos veículos que seguem pelo sentido à capital nas faixas da pista Norte (sentido interior).

No outro lado, quem segue para o interior, acessa a outra faixa da pista. Em paralelo, as equipes de engenharia faziam intervenções para evitar a entrada de água na entrada da ponte, com reforço no talude. Ao mesmo tempo, seguem tanto o monitoramento quanto as avaliações para determinar quais serão as próximas intervenções. Por enquanto, não há previsão de retorno do fluxo normal.

Ação só após o problema, diz empresário

Essa limitação de tráfego reacende a necessidade de mais interligações entre os municípios do Vale. “De novo, temos a certeza de que estamos dependente da única passagem entre as duas maiores cidades do Vale”, diz o vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transportes do RS (Setcergs) e diretor da Tomasi Logística, Diego Tomasi.

Sobre a organização das entregas, afirma que foi pego de surpresa. “Não tínhamos ideia que o engarrafamento seria tão grande. Tivemos caminhões parados por mais de meia hora em um trecho poucos quilômetros.”

Para os próximos dias, a estratégia é antecipar a saída dos motoristas. “Estamos com programações atrasadas. Clientes que precisam do material pela manhã e não conseguimos entregar”, diz. Na avaliação dele, as tranqueiras na BR-386 serve de referência sobre a necessidade para o andamento de projetos para novas possibilidades logísticas para o Vale. “O acidente de 2021 criou um caos logístico para o Vale. Agora estamos relembrando tudo o que falamos naquele período. Houve movimentos para buscar projetos e investimentos em outras passagens, mas nada se concretizou. Parece que só existe alguma ação quando enfrentamos o problema”, critica.

O engenheiro civil e presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Ivandro Rosa, destaca a importância da união entre os setores para avançar na proposta. “Precisamos é de mobilização e vontade política”, pontua.

Outro aspecto mencionado por Rosa é o formato para isso. “Este assunto da ponte precisa ser articulado pelo prefeitos, Daer, Dnit, com a contratação dos estudos iniciais de viabilidade. Definir um traçado e daí partir para um projeto, em um trabalho técnico que é prerrogativa do poder público.”

Impacto nas cidades

Diante dos gargalos, vias alternativas e até trechos urbanos registraram aumento significativo de trânsito. Em Estrela, o município inclusive alerta para problemas na Estrada Nicolau Theobaldo Hoss. Ligação com Boa Vista, a passagem conhecida como “Ponte da Tangará”, registra passagem de veículos pesados, impróprios para a estrutura dedicada apenas para motos, automóveis e utilitários.

Em Lajeado, as avenidas Senador Alberto Pasqualini e Benjamin Constant também receberam um fluxo maior de veículos nos dois últimos dias. Os primeiros indícios que o trânsito na ponte sobre o Arroio Boa Vista teria transtornos apareceram na tarde dessa segunda-feira, 11.

O trajeto entre o trevo com a avenida Alberto Pasqualini e a entrada de Estrela levava cerca de 45 minutos. Relatos de motoristas dão conta que o deslocamento de Lajeado à cidade vizinha durava até duas horas nos horários com maior movimento, com filas que chegavam à entrada de Forquetinha.

O congestionamento que alcançou os oito quilômetros teve reflexos na área urbana de Lajeado. Ruas como a Ítalo Reali e a Bento Rosa, opções para quem sai do centro da cidade, e a 17 de Dezembro, no bairro Hidráulica, além da própria Alberto Pasqualini, registravam lentidão acima da média no início da noite. A ERS-130, de costumeira sobrecarga no fluxo de veículos, tinha condições ainda mais difíceis aos condutores.

Na manhã de ontem, foi perceptível uma maior mobilização das equipes da CCR ViaSul, com a manutenção da pista. Um dos procedimentos foi o fechamento de algumas fendas na pista, para evitar a entrada de água e facilitar a recuperação da barreira de terra que ajuda na sustentação da ponte. Cerca de 30 pessoas trabalharam ao longo do dia, entre engenheiros, operários e equipe de sinalização de trânsito.

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