No último domingo, Javier Milei foi eleito o novo presidente da Argentina, com uma vantagem histórica no país, derrotando o atual ministro da economia com 55,7% dos votos. Após décadas de sucessivas medidas populistas e intervencionistas que levaram à ruína um dos países mais ricos do mundo, Milei, com seus discursos temperamentais e visual peculiar, ganhou força com as promessas de cortar gastos públicos, reduzir o estado, privatizar estatais, realizar importantes reformas e dolarizar a economia que já usa a moeda americana até por uma questão de sobrevivência.
Buenos Aires já foi considerada a Paris da América Latina, a Argentina era uma potência mundial no início do século XX, com mais reservas de ouro do que a própria Coroa Britânica. Era comum ouvir a frase “rico como o argentino”, se referindo à riqueza do país que tinha um PIB maior que o da França e da Alemanha. O cenário nos dias de hoje, em contraste ao que já foi esse país, é desolador: inflação de 144%, taxa de juros de 133% e 40,1% da população vivendo na pobreza. O governo de Alberto Fernández, atual presidente, é responsável pela maior inflação dos últimos cinco governos. Essa trágica realidade não é de agora, é, sim, de uma sucessão de governos de esquerda que insistiram em medidas que nunca deram certo. Prova disso é que a Argentina teve déficit fiscal em 112 dos últimos 122 anos. Não existe discurso populista que sustente uma economia deficitária, e pior, a conta sempre pesa no bolso do mais pobre.
A receita que levou a Argentina à destruição é um tanto quanto conhecida: populismo, aumento dos gastos públicos, irresponsabilidade fiscal, impressão de moeda e congelamento de preços, só para citar os principais pontos. Os argentinos estão sufocados pelas mãos de um estado inchado e incompetente, cujo presidente chegou a afirmar que a inflação é psicológica e que empresários deveriam fazer terapia em grupo. Seria cômico se não fosse trágico. Diante do caos, a população apostou suas fichas em uma figura polêmica que promete acabar com a decadência do país e voltar aos tempos de bonança. Javier Milei venceu as eleições, mas seu maior desafio ainda está por vir.
Milei se diz libertário e liberal, é economista e político com notória bagagem intelectual, criticado por seu apelo emocional. Ele conquistou apoio com a promessa de lutar contra o sistema político, por ele chamado de “casta”, e que certamente será seu calcanhar de Aquiles. Partir para o embate contra um sistema onde ele não terá nem 15% de apoio no parlamento é uma missão quase impossível. Seria prudente ele adotar o mesmo tom moderado do seu discurso após a vitória. Outro desafio é a complexidade da situação econômica herdada. É preciso certa cautela com medidas radicais a fim de evitar a piora do que já está muito ruim. Por outro lado, é imprescindível que ele realize reformas urgentes, condizentes com as ideias liberais defendidas. Ou seja, menos estado, menos impostos, livre mercado e respeito às liberdades. Se Milei conseguir cumprir com suas propostas mais relevantes nos próximos quatro anos, a Argentina já terá um importante avanço na retomada do caminho à prosperidade.
É provável que muitos eleitores não concordem com todas as ideias de Milei, contudo, viram na sua vitória a chance de enterrar a fracassada política peronista e kirchnerista. A governabilidade de Milei é um ponto de interrogação, mas sua ascensão nesse momento é, sem sombra de dúvidas, um fôlego de esperança aos argentinos.