Reorganização das defesas civis, dos planos de contenção, estudos sobre a bacia hidrográfica Taquari/Antas, melhorias nos sistemas de monitoramento, prevenção, alertas e até projetos de longo prazo para construções de estruturas para reservar água como forma de reduzir a velocidade das enchentes.
No Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente, autoridades, pesquisadores e líderes setoriais discutiram os passos necessários para que a região consiga mitigar os efeitos das inundações. O evento ocorreu na Univates e contou com palestras de especialistas da região, do estado e do país. Serve como partida para mudanças nas cidades atingidas por fenômenos climáticos. “Saímos daqui com o compromisso de liderar o que a região precisa para que tragédias como a de setembro possam ser evitadas”, avalia o diretor Executivo do Grupo A Hora, Adair Weiss.
Depois de dois turnos de apresentações e painéis temáticos, os participantes elaboraram uma carta, com as proposições do Vale do Taquari para mitigar efeitos das cheias, delineando estratégias de curto, médio e longo prazo.
O prefeito de Estrela e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Elmar Schneider, acredita que esse movimento tem como marca a união de toda a região. “A agressividade dessa enchente nos surpreendeu e também serviu para refletirmos. Neste momento, chamo atenção para a fotografia dessa carta. A tragédia nos mostrou que precisamos atuar juntos.”
Da associação dos municípios do Alto Taquari (Amat), o prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon, avalia o seminário como um esforço na busca pela convergência. “Sempre busquei o diálogo. Agora, precisamos somar forças na busca pela prevenção. O principal intuito de todos nós é cuidar das pessoas. São elas que vão fazer a nossa região forte de novo.”
Reforço no monitoramento
A diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil, Alice Castilho, abriu as palestras do “Pensar o Vale Pós-Enchente”. A instituição federal é ligada ao Ministério de Minas e Energia e tem 54 anos de história. Durante o evento, ela ressaltou a previsão de mais investimentos para o Vale do Taquari.
“Projetamos melhorias significativas na região, com a instalação de novas estações. Além disso, estamos modernizando estações em Encantado, Muçum, Estrela, Lajeado e Bom Retiro”, afirma. Serão cerca de R$ 200 mil de orçamento previsto para 2024.
Sobre o apagão de dados, Alice enfatiza a importância de medidas conjuntas, com mais redundância entre réguas automáticas e físicas. Para ela, essa abordagem integrada provoca uma sinergia entre diferentes regiões, promovendo uma compreensão coletiva e colaborativa para a otimização do sistema de medição e alerta.
Exemplo de Blumenau
O terceiro maior município de Santa Catarina é exemplo nacional de prevenção a eventos climáticos. O secretário da Defesa Civil de Blumenau, Carlos Olimpo Menestrina, foi um dos palestrantes pela manhã. Entre os marcos históricos, menciona a enchente de 1983. “Foi a mais longa da nossa história. Foram 32 dias com a cidade embaixo d’água.”
O divisor para qualificar os sistemas de monitoramento, alertas e socorros ocorreu em 2008. Houve investimento na construção de barragens, diques e no aprofundamento da calha do rio. Dentro das estratégias não estruturantes, Menestrina ressalta a formação da secretaria de Defesa Civil. Hoje, o setor tem 44 servidores técnicos, divididos em três diretorias. Também há coleta de dados em tempo real. Toda a comunidade pode acessar esses dados por meio de 0um aplicativo (AlertaBlu).
O Seminário Pensar o Vale Pós-Enchente foi idealizado pelo pelo Grupo A Hora, com participação da Univates, Amvat, Amat, Avat, Amturvales, CIC-VT, Codevat e Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas. O patrocínio foi da Caixa, do Governo Federal e da Corsan, com apoio do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE).
CARTA DO VALE
Confira um resumo das ações propostas para mitigar os efeitos climáticos sobre a bacia hidrográfica Taquari/Antas:
Plano de Prevenção e Evacuação:
- Ampliação do Sistema de Informações e Monitoramento:
- Modernização e expansão das estruturas existentes.
- Instalação de novas estações de monitoramento em afluentes vulneráveis.
- Previsão de enchentes aprimorada para antecipação de informações.
- Responsabilidade: CPRM, SEMA
- Sistema de Gestão Integrado Regional:
- Formação de rede colaborativa envolvendo entidades, municípios e Defesa Civil.
- Fortalecimento da Defesa Civil com planos de contingência e gestão de desastres.
- Elaboração de mapas hidrogeotécnicos, cotas de enchentes, e sistemas de alerta.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia, Defesa Civil e entidades regionais
- Instalação de Sistemas de Acompanhamento nos Municípios:
- Identificação de marcas de cheias históricas e instalação de réguas convencionais.
- Criação de níveis de referência com câmeras para acesso público.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia
- Promoção da Educação para Prevenção de Desastres:
- Integração de temas nas escolas e famílias.
- Realização de eventos, palestras e treinamentos.
- Cultura de simulados para identificação de falhas.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia, Defesa Civil regional
Ocupação das Margens e Mobilidade Urbana:
- Fase C do Plano da Bacia Hidrográfica:
- Execução de ações para minimizar impactos das enchentes.
- Responsabilidade: Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica, SEMA
- Planejamento dos Municípios:
- Adaptação dos planos diretores às mudanças climáticas.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia, com apoio do Estado do RS
- Ações de Curto Prazo e Realocação da População:
- Identificação de áreas de risco e realocação da população.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia, com apoio do Estado do RS
- Preservação de Margens e Rios:
- Recomposição da vegetação ciliar e cobertura vegetal.
- Estruturas para contenção de cheias e zoneamento de áreas inundáveis.
- Disciplina do uso dos solos na agropecuária.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia, Comitê de Gerenciamento
Financiamento e Ações para Estruturas:
- Estrutura Regional para Captação de Recursos:
- Busca de recursos públicos e de organizações nacionais/internacionais.
- Operacionalização de projetos determinados nos planos regionais.
- Responsabilidade: municípios da Bacia, com apoio das entidades
- Articulação Institucional e Desenvolvimento Regional:
- Consolidação de entidades de representação regional.
- Participação efetiva do Comitê de Gerenciamento.
- Participação ativa de prefeitos e vereadores nas decisões.
- Responsabilidade: Municípios da Bacia e entidades regionais