Jornal Nova Geração

OPINIÃO E BASTIDORES

Vamos respeitar o Rio Taquari

Afinal, se os prejuízos estruturais machucavam a nossa economia, as mortes são inaceitáveis!

O Vale do Taquari sofreu um duríssimo golpe com a segunda maior enchente já registrada em sua história. Há quem diga que tenha sido a maior. Mas os poucos centímetros entre os registros de 1941 e 2023 pouco importam diante das dezenas de mortes e os bilhões em prejuízos econômicos. Fato é que desta vez o nosso precioso rio foi implacável e devastou cidades, bairros e localidades rurais. Devastou prédios e pontes históricas, destruiu sonhos e deixou um rastro de lama e lágrimas nas ruas e estradas da nossa região. A catástrofe alterou cenários e assolou a próspera região que, até então, celebrava com merecido orgulho o sucesso do Trem dos Vales, do Cristo Protetor, a expectativa do monumento à Bíblia, a ciclovia intermunicipal, e, claro, do avanço econômico e social dessa região construída e alimentada pela bravura dos trabalhadores e a ousadia das empresas. Após tantos estragos, resta uma certeza: é preciso respeitar muito mais o Rio Taquari. Afinal, se os prejuízos estruturais machucavam a nossa economia, as mortes são inaceitáveis!


Prevenção regional

O Grupo A Hora lançou a campanha por um projeto robusto, atualizado, moderno e coletivo de prevenção aos desastres naturais. É uma provocação constante deste veículo de comunicação, mas que exige muito mais engajamento e ações efetivas a partir do desastre que ceifou dezenas de moradores da região. Presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), Elmar Schneider (MDB) também já se movimenta para construir um plano regional de prevenção às enchentes e enxurradas, com sistemas de alerta e evacuação. E isso precisa ser construído em parceria com a Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat), o Codevat, CIC/VT, a Avat, e todas as demais associações e entidades representativas da região. Não há outro caminho!


E a sede da BM?

O esforço para construir uma nova sede para o 40º Batalhão da Polícia Militar em Estrela esbarrou na resistência de alguns moradores do centro da cidade. A intenção era retirar a corporação da Rua Coronel Brito, entre os bairros Centro e Oriental, e assim evitar os prejuízos gerados pelas recorrentes cheias do Rio Taquari e seus afluentes. Com a segunda maior enchente já registrada na história, o prédio sofreu avarias ainda maiores, e, por ora, a sede da Brigada Militar será transferida para a cidade de Teutônia. E há quem acredite que a mudança será definitiva. Aguardemos!


Compre o que é nosso!

A pandemia nos desafiou ao extremo. Com o fechamento de comércios e indústrias, as empresas sangraram e muitos empreendedores e funcionários sucumbiram à grave crise sanitária, social e econômica. Na região, o Grupo A Hora idealizou uma histórica campanha, provocando os consumidores locais a prestigiarem ainda mais os produtos genuinamente locais. E deu certo. “Compre o que é nosso” foi o slogan adotado pela comunidade regional. Desta vez, e diante da maior tragédia natural do Rio Grande do Sul, é momento de reforçar e retomar esse movimento coletivo. É hora de mostrar a força do associativismo regional e ser ainda mais solidário com os nossos empreendimentos que mais sofreram perdas. É hora de valorizar ainda mais os nossos produtos e serviços. É hora de união. Não há outra forma de reerguer o nosso Vale do Taquari.


Há culpados?

A culpa é das réguas disponibilizadas pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para medir o leito do rio, e que travaram no início da manhã de terça-feira? A culpa é dos governos e os escassos investimentos na estruturação das Defesas Civis municipais? A culpa é dos moradores mais resistentes aos conselhos das autoridades? A culpa é de quem definiu as cotas responsáveis pela limitação – ou não – de edificações naquelas cidades atingidas? A culpa é de quem faz “vista grossa” aos aterros e desmatamentos realizados em áreas de preservação ou matas ciliares? A culpa é do El Niño, da umidade, e das já anunciadas temporadas de intensas chuvas no Rio Grande do Sul? Ou a culpa é da geografia do Vale do Taquari e suas montanhas e rios sinuosos?

Eu não tenho a resposta. É difícil apontar culpados pela maior tragédia da nossa história. É um julgamento que pode caminhar muito próximo à injustiça, e eu não me permito ser injusto neste momento de tanta dor e trauma. Mas, e após algumas boas prosas com especialistas da área, eu gostaria de compartilhar algumas sugestões de terceiros. Entre essas, a necessidade de investir de forma coletiva em um sistema de monitoramento robusto – com alertas sonoros de emergência altos suficientes para chegar às regiões de maior risco –, a preocupação mais técnica na hora de escolher servidores e orçamentos às Defesas Civis, o maior respeito às regras e leis da natureza, e, por fim, uma política pública efetiva para garantir moradias dignas e fora das áreas alagáveis a todos.


CURTAS DA SEMANA

– A visita do vice-presidente Geraldo Alckmin ao Vale foi crucial para garantir os primeiros recursos anunciados pela União. Com destaque ao empréstimo de R$ 1 bilhão do BNDES.
– A Univates anunciou a criação de uma comissão específica para avaliar a situação dos estudantes que tiveram residências ou empregos afetados pela enchente.
– É preciso elogiar tanta gente que o risco de esquecer alguém é muito alto. Mas eu preciso fazer uma consideração especial ao agrupamento do Corpo de Bombeiros Voluntários Imigrante e Colinas (Imicol). Mais uma vez, o grupo se mostrou fundamental para a segurança regional.
– Inevitavelmente, o projeto da ciclovia entre Estrela, Colinas e Imigrante vai ficar em segundo plano neste primeiro momento. A prioridade é recuperar a pleno a pista de veículos da ERS-129, bastante danificada em Colinas, principalmente. Mas é preciso manter a ideia no radar.
– Os danos causados no porto de Estrela – e no aeródromo regional – serão alvo de muitos debates entre os membros dos governos municipal, estadual, federal e da Empresa Pública de Logística Estrela (E-Log). Além, claro, dos empresários já interessados no espaço e futuros investidores.
– O adiamento da 8ª Estrela Multifeira surpreendeu agentes públicos e privados. Para alguns, a decisão foi prematura. Para outros, foi um ato necessário. E há quem acredite em uma reviravolta no caso. Fato é que a enchente que assolou a região vai mudar planos e cenários econômicos e sociais. E será preciso muita resiliência para vencermos mais este desafio.

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