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CONEXÃO

Vozes que cantam a história dos corais

Com cerca de 250 integrantes, os corais das comunidades guardam a trajetória de um dos grupos mais antigos do país: o Coro Santa Cecília da Paróquia Santo Antônio de Estrela. A busca por renovação hoje é uma das maiores dificuldades

Foto: Karine Pinheiro

Cerca de 250 pessoas, entre nove e 90 anos, divididas entre 18 grupos e comunidades, mantêm viva a história dos corais em Estrela. Além da rotina de ensaios e apresentações nas localidades, o município guarda a trajetória de um dos corais mais antigos do Brasil. Entre ensaios semanais e apresentações em missas e eventos especiais, as vozes que perpetuam e cantam essa trajetória buscam formas de manter a arte viva.

A rotina de um coralista exige cuidados com a voz, mas recompensa em outros aspectos. O presidente da Liga de Corais de Estrela, Charles Gregory, destaca que somente quem participa, é capaz de sentir a emoção de entoar a voz na companhia do coro. Entre os benefícios, ele aponta o convívio com amigos, além da emoção. “O canto coral pode mudar a vida de uma pessoa. Fui reeleito pela segunda vez para ser presidente da liga e sou apaixonado pela atividade”, afirma.

Com o pai regente por mais de 40 anos e mãe também coralista, ele cresceu e dedicou a vida ao canto. Passar a tradição musical de pais para filho manteve os corais vivos por mais de 100 anos. No entanto, hoje, a renovação é uma das dificuldades dos coros.

Tradição familiar

Assim como Gregory, Maria Beatriz Plentz também dedicou a vida ao coralismo. Hoje regente de seis corais em Estrela, ela começou a cantar com o pai no Coral Santa Cecília de Linha Delfina aos 11 anos. Após formar um grupo com a família, investiu em formações e passou a dar aulas de música em escolas de Estrela, Bom Retiro do Sul e Lajeado. Atualmente, a regente é responsável pelos corais das comunidades São Luís, Delfina, Auxiliadora, São Jacó e Santa Cecília de Estrela.

Em junho de 2022, ela foi homenageada com a Comenda Maria Ilse Hart, devido a sua trajetória também como professora e participação comunitária. Ela destaca que a música é tudo em sua vida. “Para mim ser regente é muito gratificante, adoro cantar bem como fazer este trabalho, pois além de me realizar através do canto, tenho a oportunidade de conhecer muitas pessoas, ampliar o círculo de amizades, mostrar que as pessoas são capazes de expressar seus sentimentos através da música”, afirma a coralista.

Corais Santa Cecília

O Coral Santa Cecília de Estrela foi fundado em 25 de abril de 1876 e documentos destacam a possibilidade de ser o coral mais antigo do país em atividades ininterruptas. O primeiro estatuto, registrado em alemão gótico, relata a chegada dos imigrantes alemães na região. Os documentos apontam que o professor Nicolau Mussnich foi um dos grandes regentes do coro.

Desde então, diversos corais Santa Cecília surgiram pelas comunidades estrelenses. Segundo os componentes dos grupos, a Santa é considerada padroeira dos músicos e cantores.

Apelido que marca trajetória

O Coro Santa Cecília da Matriz Santo Antônio tem quase uma década e meia de história. Quando se fala sobre a trajetória do coral, os colegas indicam que a “Peti” conhece boas narrativas. Conhecida pelo apelido, Helena Mallmann coleciona 47 anos no mais antigo grupo coralista de Estrela. Além disso, soma um período no coral de Taquari e 20 anos na Sociedade de Cantores Auxiliadora, também de Estrela.

No entanto, aos quase 84 anos, ela conta que a alcunha pela qual é reconhecida na comunidade também surgiu devido ao coral, quando ela tinha seis meses. “Minha mãe contava que foi assistir meu irmãos cantar na escola e tinha uma música que era ‘bate bate’ e eu ficava batendo palmas enquanto balbuciava ‘peti peti’. O apelido ficou e até hoje me chamam assim”, relata Helena.

A Peti começou a cantar, na época, na Escola Vidal de Negreiros, ainda que não lembre como descobriu o dom na voz. A atividade mantida na rotina dela é considerada terapia e momento de rever os amigos. Assim como ela, diversos integrantes iniciaram a trajetória pelos corais na juventude.

Luiz Caye também cantava na escola. Após formação no Instituto Estrela da Manhã, com cerca de 20 anos de idade, ele passou a integrar o coral Santa Cecília. A esposa Vilma Caye decidiu participar também depois de alguns anos. Hoje, o casal também participa do Coro Municipal.

Dificuldade de renovar

Ainda que a maioria dos coralistas tenham iniciado a trajetória na juventude, hoje o feito não se repete mais. O presidente da liga enfatiza que o maior desafio na arte coralista é a renovação dos grupos e encontrar integrantes jovens, principalmente crianças e adolescentes. “Infelizmente não há interesse e também não há comprometimento. O incentivo dos pais é muito importante. O futuro dos corais é algo que nos preocupa”, aponta Gregory. Como forma de atrair os jovens, algumas escolas do município possuem corais. Desta iniciativa, alguns alunos passam a compor os coros das comunidades.

Beatriz conta que alguns pais costumam levar os filhos, no objetivo de manter a tradição em família. Em sua avaliação, as meninas são as que mais se dispõem a participar. “Podemos observar em todos os corais, onde as mulheres são maioria e há falta das vozes masculinas, pois os homens em geral não querem este tipo de compromisso”, opina.

Ela também destaca que antigamente, os jovens se formavam na escola e retornavam aos corais da comunidade. Hoje, estudaram fora da cidade, o que torna o retorno mais difícil.

Lua Cheia

Segundo histórias dos coralistas da Matriz, constam nos registros que os primeiros ensaios eram feitos somente em noites de lua cheia. Como não havia luzes elétricas e estradas para guiar o caminho de volta para casa após os encontros, os músicos voltavam sob a luz do luar.

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